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A semana da coragem

Faz agora quase 1987 anos que Jesus decidiu enfrentar os poderes temporais do seu tempo que esmagavam o povo da Judeia mantendo-o numa pobreza extrema. Após três anos a provocá-los Jesus achou que a Páscoa, talvez por reunir muita gente vinda das mais variadas partes da Judeia, era o momento ideal para confrontar as classes políticas e sociais dominantes: romanos (potência ocupante), a aristocracia rural (agricultores ricos) e religiosos. Entrou na cidade de Jerusalém acompanhado de um grupo numeroso de pobres, o seu público preferido, intitulando-se “rei dos judeus” numa atitude altamente provocatória e consciente de que já estavam de olho nele pelas ideias que tinha propagado nos três anos anteriores, nas periferias de Jerusalém, a mais importante das quais a igualdade da raça humana perante o seu criador- DEUS. Era uma ideia demasiado atrevida para a época com consequências muito devastadoras para os interesses daquelas classes. Chegou a exigir como condição a um rico que o queria seguir: ”vende tudo o que tens e dá aos pobres” apontando deste modo a acumulação da riqueza como o principal pecado e origem dos males deste mundo. E foi ainda por causa deste princípio, que no ano 313, o Imperador de Roma, Constantino, se viu obrigado a fazer um acordo com os cristãos nos seguintes termos: “ vou deixar de vos perseguir ou melhor ainda a vossa religião passará a ser a religião oficial do Império mas como contrapartida exijo-vos o fim da propagação do princípio da igualdade”. Poucos conhecem ao certo a letra do acordo mas o espírito é este dadas as consequências que daí resultaram. Este pacto permitiu à cristandade rapidamente espalhar-se pelos quatro cantos do Império e a Constantino livrar-se de uma série de religiões que só lhe provocavam problemas mas sobretudo afastar a ameaça de revolta dos escravos, que constituíam 60% da população de Roma, os quais já estavam a ter comportamentos menos pacíficos em consequência das ideias igualitárias espalhadas pela cristandade. Constantino tinha conhecimento de que no ano 70 antes do nascimento de Jesus, o escravo Spartacus, tinha liderado uma revolta desta classe social a qual, com cerca de 80 000 homens, quase deitava Roma abaixo. Era isto que temia Constantino. A Páscoa, em Jerusalém, era um momento muito sensível, a nível político e militar, de tal modo que o Exército romano que normalmente estava a 20Kms da cidade aproximava-se para uns 6Kms. Nesta quadra a cidade recebia cerca de 150 000 forasteiros o que para a época era muita gente. A Judeia era para Roma uma constante dor de cabeça dada a forte resistência militar oferecida pelos guerrilheiros nomeadamente os Galileus. Jesus tinha perfeita consciência das consequências das ações que tencionava fazer mas ainda assim arriscou. Provocou, causando distúrbios no Templo, originando a fúria dos religiosos e por arrastamento dos romanos que não podiam tolerar tais desmandos. Pilatos que era implacável, para com os que ponham em causa a ordem estabelecida, mandou de imediato prender e crucificar Jesus. A crucificação era um tipo de castigo que Roma aplicava apenas àqueles que eram considerados seus inimigos políticos. De Pilatos disse um dia o Imperador, Júlio César, que o tinha nomeado como governador para a Judeia: “preferia ser o porco dele a ser seu filho”. A razão era que Pilatos tinha mandado matar toda a sua família. A sua escolha para governador da Judeia escolha ficou a dever-se precisamente ao seu carácter cruel e proezas militares tendo-lhe sido fixado como objetivo acabar com a forte resistência do povo judeu. Este considerava um sacrilégio a ocupação da sua terra apelidada de prometida. Face ao ambiente descrito Jesus demostrou muita coragem ao decidir enfrentar a fera no seu próprio covil sabendo de antemão do carácter sanguinário de Pilatos e do ódio que as classes dominantes tinham contra as suas ideias contrárias à continuação da situação vigente.

Manuel João Baptista Rosa

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