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O incómodo Marega

O episódio Marega está a incomodar alguns que tentam menosprezá-lo. Há até quem recorra ao dicionário para nos dar o significado rigoroso de racismo como se o conceito e as atitudes racistas se restringissem a um mero significado de um dicionário. O que se passou com Marega não foi caso único e só a atitude do jogador ao forçar a sua saída do jogo é que impediu que fosse mais um a passar despercebido da opinião pública. A atitude tomada pelo jogador é que foi a grande novidade que causou impacto, despoletou atenções e obrigou os responsáveis desportivos, governamentais e da justiça a tomar posição condenando as atitudes racistas de que ele foi vítima. Os “grunhidos” imitando símios provocados pelos delinquentes têm subjacente uma atitude racista porque são usados exclusivamente contra os jogadores africanos, e não se cingem aos vulgares impropérios que abundam nos estádios de futebol e até no dia a dia de muita gente cujo léxico não lhes permite muito mais do que isso. Procurar ignorá-lo poderá ser por si só uma atitude pró-racista ainda que encapotada. A própria linguagem utilizada nalguns comentários que li, como “pretos”, “brancos”, revela que quem os escreveu talvez pretenda desvalorizar incidentes de natureza racista como este, pelo incómodo que sente por não ter ainda conseguido racionalizar e interiorizar que não há “raças”, nem “pretos”, nem “brancos” apenas e só pessoas, e foi essa precisamente a mensagem que o poeta António Gedeão nos quis transmitir com o seu poema. A lei que criminaliza as atitudes racistas e xenófobas nada tem que ver com os vulgares insultos, que não são exclusivos dos estádios de futebol, mas transversais à nossa sociedade e cada vez mais vulgarizados entre os/as jovens, o que também não é de admirar se tivermos em conta a banalização dos mesmos até em espetáculos televisivos a horas de audiência indiferenciada, onde alguns famosos “comediantes” se revelam totalmente incapazes de uma “piada” que não meta impropérios.

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