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Quem roubou a nossa agenda?

Calma porque, por enquanto, temos de responder a uma pergunta mais premente: Como deve ser o presente?

O Carnaval passou com toda a normalidade; a Páscoa era já ali. Este era, apenas, mais um ano letivo: estava a chegar a pausa do 2.º período; depois, viria o 3.º, o mais curto dos períodos; rapidamente, estaríamos em junho, exames, avaliações finais, concursos de professores, férias e, de novo, o recomeço, já em setembro. Tudo normal, pois, até àquela segunda semana de março, que, no SPM, até prometia ser bem animada com a celebração do 42.º aniversário, na quinta, e com a realização da 3.ª Corrida Regional dos Professores, na sexta-feira. Tudo a postos; excelente adesão às duas iniciativas... mas, de repente, o CÉU CAIU-NOS EM CIMA e vimos o que não queríamos ver até então: todos corríamos sérios riscos.

Estávamos no dia 11, quarta-feira. Decidimos anular os festejos do aniversário do SPM e, à pressa, adiamos a Corrida, porque já não tínhamos dúvidas de que nos tinham roubado a nossa agenda para os próximos meses, apesar de, nesse dia 11, o Governo se ter recusado a fechar as escolas. Viria a alterar essa decisão no dia seguinte.

E agora – perguntamo-nos todos nós – como vai ser o futuro?

Calma porque, por enquanto, temos de responder a uma pergunta mais premente: Como deve ser o presente?

A primeira parte da resposta, todos nós a sabemos e todos, julgo eu, estamos a agir em coerência com ela, isto é, a ficar em casa, tão isolados quanto possível, fisicamente, de todos os que não vivem connosco.

O problema é a segunda parte da resposta, ou seja, como mantermos, refugiados entre quatro paredes, as nossas vidas sociais e profissionais. Não é nada fácil respondermos, por mais especialistas que sejamos nas redes sociais e em todas as formas de comunicação à distância. Não tenhamos dúvidas: ninguém está preparado para viver virtualmente. O virtual não é o que queremos; não fomos criados em ambientes virtuais, nem queremos criar as novas gerações dessa forma.

Ninguém deseja isso para os seus. No entanto, sem aviso prévio, vemo-nos confrontados com a necessidade de desenvolvermos novas formas de educação e de ensino para as quais ninguém, por mais digital que seja, está preparado. Ninguém está, nem os alunos, nem as suas famílias, nem os professores, nem as escolas, nem a Secretaria de Educação, nem o Governo Regional, nem o Ministério da Educação, nem o Governo da República. Ninguém, ninguém, literalmente, ninguém. Se têm dúvidas, vejam o que aconteceu às plataformas digitais de algumas editoras: em 24 horas, colapsaram.

Todos ficamos sem agenda, de um dia para o outro, por isso, sejamos pacientes e realistas: encaremos a nova realidade com otimismo, mas conscientes de que não é possível passar do ensino presencial para o virtual numa semana, nem em duas, nem num mês, nem... Enquanto nos preparamos, tenhamos o cuidado de não seguir por caminhos que aumentem o fosso entre quem tem e quem não tem recursos materiais. Esse é o grande perigo; tudo o resto se resolverá com tempo e investimento.

Espero que, quando nos devolverem a nossa agenda, não tenhamos deixado para trás grande parte das crianças e dos alunos.

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