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Coronavírus País

Economia portuguesa com contração de pelo menos 2,9% em 2020

EPA/MIGUEL A. LOPES
EPA/MIGUEL A. LOPES

Um estudo da IESE Business School conclui que o impacto económico global da crise do novo coronavírus “está a ser subestimado” e levará Portugal a uma recessão este ano, com uma quebra de pelo menos 2,9% do PIB.

Segundo as conclusões do trabalho da escola de negócios da Universidade de Navarra -- elaborado pelo professor da IESE Business School e presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal Nuno Fernandes --, num “cenário moderado”, a crise decorrente da pandemia de covid-19 deverá custar a Portugal cerca de 4,5% do produto interno bruto (PIB) e conduzir o país a uma recessão, com uma contração de 2,9% da economia em 2020.

Contudo, alerta o investigador, se a paragem económica (’shutdown’) se prolongar por mais de um mês e meio e as medidas extraordinárias de apoio tiverem de ser estendidas até meados de junho, a contração do PIB português pode chegar aos 7%, podendo mesmo a economia nacional recuar 10,7% se o ‘shutdown’ durar até ao final de julho.

Globalmente, o estudo conclui que os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus “estão atualmente a ser subestimados devido a uma excessiva confiança em comparações históricas” (nomeadamente com a SARS e a crise financeira de 2008/2009), e num “cenário moderado” aponta para um impacto no PIB mundial de 3% a 5%, dependendo do país, sendo que “praticamente todas as economias entram em recessão”.

Estimando que cada mês de paragem da economia global represente 2% a 2,5% do PIB mundial, o trabalho prevê que, se as medidas extraordinárias de apoio à economia tiverem de ser mantidas até ao final de julho, o declínio médio da economia mundial aproximar-se-á dos 8%, podendo mesmo superar os 10% em alguns casos.

“Se a atual crise durar até ao final do verão, a economia global enfrenta a maior ameaça dos últimos dois séculos”, adverte Nuno Fernandes.

Segundo refere, países como a Grécia, Portugal e Espanha, por estarem “muito dependentes do turismo (que representa mais de 15% do PIB), serão mais afetados por esta crise”, assim como os países com perfil mais exportador e economias mais orientadas para os serviços.

No cenário de paralisação económica de um mês e meio, o economista projeta uma contração este ano da economia alemã de 2,4%, de 2,0% em França e no Reino Unido, de 3,2% em Itália, de 2,1% em Espanha e de 0,8% nos EUA.

“A maioria dos países europeus vai enfrentar recessões significativas e ver as respetivas economias contraírem-se 2% a 3%”, antecipa, recorrendo aos cenários de anteriores recessões para prever que “um declínio desta magnitude no PIB vai aumentar significativamente o desemprego”.

De acordo com Nuno Fernandes, e ao contrário das crises anteriores, “desta vez está a enfrentar-se um choque combinado ao nível do abastecimento e da procura”, exacerbado por diversos fatores como a elevada integração atual da economia global e o papel chave que a China, o epicentro inicial da crise, atualmente desempenha.

“A pandemia também acontece numa altura em que as taxas de juro estão baixas e os instrumentos financeiros para combater a crise são limitados”, sustenta, acrescentando que “os bancos centrais esgotaram as suas ferramentas durante os tempos bons” e, atualmente, “não há praticamente espaço para estímulos monetários que ajudem a lidar com os riscos futuros”.

Neste contexto, o estudo defende a urgência de uma intervenção política global que evite o pior cenário, mas avisa que “o tempo se está a esgotar rapidamente”: “Globalmente, nunca na História se assistiu aos impactos potenciais desta crise”, avisa.

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