Turismo

Iva a 22% no turismo prejudica o sector

13 testemunhos sobre o turismo. Durante duas horas não faltaram críticas, ideias e sugestões

O debate mensal promovido pelo DIÁRIO e TSF abordou ontem o turismo. O presidente da Câmara Municipal do Funchal (CMF) diz que o IVA a 22% é insustentável para esta indústria.Eduardo Jesus, da Ordem dos Economistas (OE), fala em tragédia num sector a encolher. O hoteleiro André Barreto sugere que parte do IVA cobrado seja para a promoção. Leonel Nunes, do Sindicato de Hotelaria diz que o turismo tem sido gerido como uma mercearia. Joel Freitas, da Associação Comercial do Norte, diz que a estratégia de comunicação está errada.Durante mais de duas horas, diversos intervenientes debateram o sector do turismo cujo peso no PIB regional é fundamental.Depois das Autárquicas (Janeiro) e do Turismo (Fevereiro), o próximo debate mensal da iniciativa editorial do DIÁRIO/TSF, 'Ideias que ficam' será sobre o dengue (Março).Ontem, na recta final do debate sobre o turismo que teve lugar no auditório da reitoria da UMa, intervieram o hoteleiro João Beja que falou da necessidade de requalificar o parque hoteleiro.Também interveio a jornalista Lília Bernardes que falou sobre a necessidade de voltar ao slogan 'Pérola do Atlântico'. Sugeriu ainda que não se confunda cultura com animação turística nem bolo do caco, vinho seco e espetada.Abílio Sousa, da ACIN, falou das saudades de ver as camionetas repletas de turistas ingleses na costa norte da Madeira e das dificuldades do sector da restauração.Quase a acabar o programa, Miguel Albuquerque citou Almeida Garret e o livro 'Alice no País das Maravilhas'. Sugeriu a recuperação dos caminhos antigos, veredas rurais e das estradas antigas (obras que cobririam 20% do sector da construção civil). Lançou um olhar sobre a laurissilva dando como exemplo a pouca explorada freguesia de Boaventura.Explorar EUA, Rússia, ChinaO consultor e ex-director regional considera que a Madeira terá de começar a apostar em mercados emissores de turismo como os EUA, Rússia e China. Para Pedro Ventura, "dominar as rotas" é fundamental, alicerçado numa "estratégia Internet para a Madeira" pois os nossos filhos dão-nos "10 a 0" nesse campo.Para Pedro Ventura é preciso começar a pensar em negócio. "No show, no business", justificou. Além disso, é preciso "transformar a informação em inteligência".Observatório faz o que podeO professor da Universidade da Madeira (UMa) e responsável pelo Observatório do Turismo, António Almeida disse que é preciso levar a sério o facto dos turistas que nos visitam terem uma alta qualificação académica/profissional.Ora, se as entidades regionais olharem para esse indicador, a oferta turística terá de adaptar-se incrementando a aposta cultural. António Almeida concorda que a UMa possa abrir um curso superior na área do turismo, mas a decisão ultrapassa-o."Loucura" concessionar EscolaO sindicalista Leonel Nunes considera que foi "uma loucura" concessionar aos privados a Escola de Hotelaria e Turismo da Madeira.Disse que o turismo está a ser "gerido como uma mercearia". Para o sindicalista, há um cancro no sector que são os salários em atraso. As altas taxas aeroportuárias e os preços baixos dos quartos são indicadores de que se está "a matar a galinha de ovos de ouro". O sector estagnou. Existem menos de 30 mil camas quando se apontava para 35 mil.IVA a 22% é insustentávelO presidente da Câmara do Funchal considera insustentável o IVA a 22% no sector. Miguel Albuquerque disse que as Câmaras não têm sido "tidas nem achadas" em matéria turística. Não pode ser só uma cabeça a pensar. Além disso, do ponto de vista orgânico, a Secretaria do Turismo está mal concebida. Não basta dizer que o turismo é uma área prioritária. É fundamental haver uma hierarquização de políticas, disse. E desafiou as entidades públicas a avaliar os actuais cartazes turísticos .Estudo dentro de um anoNão faz sentido vender o destino Madeira como sendo de praia. A afirmação foi proferida pela presidente da ACIF, Cristina Pedra.O caderno de encargos do estudo de caracterização sobre o turismo que irá monitorizar e elaborar o plano estratégico para o sector está a ser ultimado. Existe uma comissão de acompanhamento do estudo em que têm assento  'players' privados e públicos. O estudo custará cerca de 250 mil euros e deverá ser conhecido dentro de um ano.O POT não existeO plano estratégico sobre o destino turístico é mais do que um estudo de caracterização. Para Eduardo Jesus, da Ordem dos Economistas, o Plano de Ordenamento Turístico (POT) não existe, não foi revisto como o próprio documento previa. Além disso, fica abaixo de um plano estratégico. A reflexão estratégica terá de ser um compromisso.O sector público tem fugido a este debate. Se a obrigatoriedade não tiver força de lei (aprovada na Assembleia) não fará sentido.Mais aposta nos CruzeirosO Sindicato dos Guias-Intérpretes considera que se deve apostar ainda mais no turismo de cruzeiros. Em 2012 este mercado trouxe à Região cerca de 600 mil turistas. Emke Rodrigues criticou o facto das entidades oficiais serem reticentes na audição dos profissionais do sector.Para as guias intérpretes a China é um mercado turístico interessante e a França não deve ser descurada. Aliás, os turistas que chegam à Madeira sem ser por 'tour operadores' não devem ser menosprezados.Promoção de maneira erradaAurélio Rodrigues, do hotel 'Orca Praia' disse que estão a falhar "boas ideias" para o sector. Faz-se "promoção de maneira errada, nos lugares errados". Lamenta a ausência de entidades oficiais em algumas feiras.Disse que não se pode fazer promoção à moda do séc. XVIII entregando "papelinhos". A aposta deve assentar em três pilares: Natureza, Qualidade e Segurança. Criticou a "obsessão" no indicador ocupação e não na rentabilidade qualificando de "autistas" alguns responsáveis.Olhar desconfiado para o norteO hoteleiro e dirigente da Associação Comercial e Industrial do Norte (ACIN) disse que a estratégia de comunicação está errada e a prova disso foi a abordagem ao 20 de Fevereiro. Para Joel Freitas, que também explora a rota da cal e vai lançar o 'Circuito à moda antiga', aproveita-se mal o facto de termos temperaturas que fazem inveja a países do norte da Europa. Lamentou que as entidades oficiais olhem com desconfiança para as iniciativas de promoção da costa norte da Madeira.Cativar IVA para a promoçãoO hoteleiro André Barreto sugeriu que uma parte do IVA que é cobrado no sector seja "cativado" para a promoção. Para ele não deve haver dispersão na promoção. A aposta deve ser nos mercados tradicionais (Reino Unido, Alemanha e Escandinávia). Para si o sector não vive, sobrevive numa estratégia de "navegação à vista". Questionou se a aposta em cartazes turísticos como o Rali ou a 'areia amarela' invertem a tendência e são susceptíveis de aumentar o preço do quarto por estadia