Artigos

Como anestesiar um povo!

Acabei de visitar um país, reconhecido como um regime político comunista, ou melhor dizendo, um regime comunista uni-partidário e mais precisamente ainda, uma ditadura construída para uma sociedade igualitária, com uma propriedade comum dos meios de produção nacionais.

Para quem como eu, nasceu nos anos 50, será talvez um pouco tarde para falar duma visita deste género - mas a minha curiosidade nunca se virou para estes tipos de sociedades, quase sempre disciplinadas e musculadas por ditaduras mais ou menos inflexíveis. E assim, conheci finalmente “in loco” um território com um regime político desta natureza, com um ambiente na sua geralidade muito simpático e divertido, organizado quanto baste, com uma população quase sempre acolhedora e disponível e com um sorriso cordial, quase sempre animador. Um país que não falha, na educação desde a básica até á superior, que insiste na cultura e nas artes e aposta num sistema de saúde, abrangendo todos os cidadãos, com grande qualidade nas suas prestações - com um programa de prevenção de doenças, muito actualizado. Não se vê ninguém a pedir esmola, mas presupõe-se que poderão haver pobres ... pelas sensações e imagens sugeridas á nossa volta. Na organização básica, reparamos que têm uma hierarquia com muitas patentes, embora bem montada ... mas, para se alugar um simples táxi de 10 lugares, chegamos a ter de conhecer três intermediários. A literacia das pessoas impressiona pela positiva, mas as barreiras por entre as conversas mais elaboradas, são permanentes e declaradas. Mas nunca há queixas! É assim, porque é assim! Nos estudos superiores, podem fazer-se mestrados, mas ... só se os houver no território nacional ... porque, para sair ou para entrar no país é necessário, uma quase impossível autorização governamental. Ao invés da grande literacia, o acesso aos computadores e á internet é muito limitado. Esta última, só existe em locais muito restritos - encontra-se só no hall dos principais hotéis - préviamente requisitada e superiormente autorizada. Não é permitida á população ter acesso á internet em casa ... com multas avultadas a quem a adquira clandestinamente. Daí que exista alguma contestação, real, mas muito discreta e pouco divulgada ... havendo por esse motivo, um número exagerado de jornalistas presos. Além destes casos de prisões no país, existem cerca de 3 milhões de exilados - cerca de 1/4 da população - que não podem voltar a casa, sob pena de também serem encarcerados. Com o natural desenvolvimento turístico na américa latina, intensificaram-se as oportunidades para iniciativas privadas - com entidades nacionais e estrangeiras - mas, na prática, com o apertado controlo estatal pré-estabelecido, o lucro obtido, revela-se irrisório e duvidoso ... porque é o próprio estado, quem decide e quem faz as contas. Um estado, que também exporta profissionais, qualificados, cobrando altos valores a quem os recrutar ... para depois pagar infinitamente mal a esses prestadores, por serviços de alta qualidade. Um regime político, patenteado pela anestesia encefálica da população, contudo parcial, deixando fazer umas coisas e impedindo outras, usando os valores individuais em seu benefício, impedindo qualquer iniciativa privada, não controlada.

Enfim, uma realidade “sui generis” num regime com quase 60 anos, inflexível, estacionário, anti-democrático, totalitário, desprovido de visão estratégica ou política, ... mas, ao invés, com todos os benefícios sociais e educacionais, assegurados á sua população residente. Talvez por isso, todos aceitam que assim seja!

Acho muito interessante haver partidos políticos, em países europeus, civilizados e democráticos, os quais, sendo de esquerda, sempre apregoam - e fazem-no insistentemente - que só a esquerda defende verdadeiramente os direitos dos trabalhadores. Vejam em Espanha, naquela conversa mal contada da independência da Catalunha ... como já apareceu a esquerda espanhola a se posicionar para também ganhar pontos com a situação conflituosa ali gerada! Mas afinal, foram e ainda são, os regimes de esquerda, no Mundo, os que mais mataram os seus concidadãos ... sem estarem em guerra ... mas pelo simples facto de serem opositores políticos. Aí vão alguns números recolhidos ... que depois poderão confirmar: Mao Tsé-Tung (China) - 77 milhões; Joseph Stalin (URSS) - 43 milhões; General Chiang Kai-Shek (China) - 10 milhões; General Pal Pot (Camboja) - 2 milhões; Kim II-Sung (Coreia do Norte) - 1,7 milhões ... números que devem ser comparados com Adolf Hitler (Alemanha), responsável por 21 milhões de mortos, estes ocorridos no desenrolar duma guerra mundial!

Um regime político ou um partido que usa e entoa uma frase destas: - A verdade ou a mentira são armas revolucionárias ! ... está desactualizado e não pode ser credível! Até porque desconhece que é mais fácil “apanhar” um mentiroso do que um coxo! Os “materiais e métodos” utilizados pelos partidos de alguma esquerda europeia, apoiam-se na divisão interna, no separatismo, utilizando manobras de actuação imediata, para solicitar mais direitos para os trabalhadores, sem qualquer sustentabilidade económica reconhecida, mas depois imposta aos governos dos respectivos países. Usando a tal mentira como arma de arremesso, conseguem ter esses trabalhadores como seus reféns e assim dependentes “sine die”.

E voltando ao início ... aqueles cidadãos, em número muito pequeno, que conseguem resistir aos efeitos da tal anestesia, terão poucas saídas possíveis ... duas delas, ser presos, ou fugir do país. Dar, para depois receber o dobro daquilo que se dá, é o lema desse totalitarismo, que existe disperso por três ou quatro continentes, abusando da mente humana, tornando-a submissa, fraca, impotente, ... e assim dependente. Foi aquilo que vi, em Habana ... como se fosse um quadrado, com um lado bom e com os outros três lados maus!

P.S. Apenas uma questão esquecida do passado mês ... - Os motociclistas não querem fazer a inspecção anual aos seus veículos? Existe algum direito constitucional que eu desconheço?