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Análise

O futuro sem bodes expiatórios

1. Continuamos a viver um tempo estranho, árido, castrador de liberdade e da livre circulação. Não temos, por enquanto, nenhum surto de covid à porta, mas o fantasma do vírus imprevisível paira sobre nós e tolhe-nos os movimentos. Os que tinham férias marcadas cancelaram-nas ou transferiram-nas para dentro de portas, os que precisam de viajar tiveram de se adaptar a novas realidades de contacto, os estudantes estão num misto de aulas/férias há tempo demais. As rotinas foram alteradas e as pessoas passam mais tempo em casa. Para o bem e para o mal. A grande maioria redescobriu as suas habitações e encontrou novas formas de estar em família e de conviver. Muitos viram as suas vidas interrompidas e o seu quotidiano deteriorar-se. Preocupante. Perante a evidência não podemos fechar os olhos. O desemprego dispara e a pobreza volta a agigantar-se. Os números estão aí e confirmam a tendência crescente de pessoas que precisam de ajuda. Na Região existem 17.465 indivíduos sem trabalho, contudo o subsídio de desemprego contempla apenas 29% da totalidade desamparada... Os restantes vão vivendo de apoios pontuais da Segurança Social. O Rendimento Social de Inserção já chega a 2.615 famílias, um número que não era tão elevado desde 2010. Com a paralisação económica e com a incerteza da retoma do turismo, as perspectivas são pouco animadoras para o futuro próximo. Mas a pandemia que nos troca as voltas não pode servir de bode expiatório para todos os males da sociedade. Há problemas endémicos, identificados há muito, que precisam de rápida resolução, que nenhuma ‘guerra’ aberta e declarada contra Lisboa vai resolver. Essa pode entreter militantes crónicos, mas não resolve rigorosamente nada, na prática. Antes pelo contrário, afasta qualquer hipótese de negociação. Precisamos, enquanto região autónoma, que comemora 44 anos na próxima quarta-feira, de mais concertação e de menos vitimização. Precisamos de menos ‘partidarite’ e de mais competência, onde cada qual seja valorizado pelas suas competências e qualificações. O que não precisamos, de todo, é que se continue a misturar reivindicações (muitas justíssimas) com tricas políticas birrentas e infantis.

2. O País tem pela frente uma tarefa hercúlea, agravada por uma cada vez mais que provável segunda vaga de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, com consequências nefastas para o Turismo. Em vez de atrairmos os visitantes, estamos a repeli-los. A Madeira apanha por tabela e é negativamente influenciada, porque a sua imagem está associada a Portugal. E se Portugal não é seguro, isso atingirá a Região, injustamente. O percurso feito pela Madeira durante a pandemia é diametralmente oposto ao trilhado no continente. Temos apenas dois casos activos. Isso tem de ser valorizado também pelo Governo da República, que deve encontrar, em articulação, com as autoridades regionais, formulas de promover o destino, fomentando, por exemplo, corredores sanitários, como já defendeu, e bem, o deputado socialista Carlos Pereira, que permita a entrada directa de turistas.

A Madeira, bem como os Açores, não pode ficar presa à má reputação nacional, nem refém de um governo central que está a perder a mão na crise sanitária com epicentro na capital.

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