O estado da arte
1. O Funchal
Há quatro anos, o Funchal tinha o Presidente de Câmara certo: Miguel Silva Gouveia - um Homem que conhece bem o município, que conversa com a sua gente e que tinha uma ideia de futuro para o concelho que liderou. Tinha um plano, uma equipa e um projeto. Faltou-lhe a Confiança da maioria dos funchalenses, que escolheram Pedro Calado e o “Funchal Sempre à Frente” para liderar a capital. Passado este tempo, o que sobra desse projeto? Nada. Pedro Calado abandonou a presidência, Cristina Pedra nunca gostou do cargo que ocupou, Bruno Pereira queria-o mas o partido não o apoiou, José Luís Nunes recuou e Jorge Carvalho foi quem restou. Da equipa de vereação eleita não ficará ninguém; da escolhida pelo candidato desistente também não. Ideias de futuro, concretizadas ou planeadas? Nenhuma que se conheça. É neste estado que o PSD deixa o Funchal, uma cidade parada no tempo e sem projeto claro que o desbloqueie - mas podia ter: bastaria que a oposição tivesse compreendido no devido tempo que tinha o candidato certo, em vez de entreter-se com divisões e candidatos que acabarão a contar tostões eleitorais.
2. A Madeira
Infelizmente, o que se passa no Funchal é um mal menor perante o mal maior a que a Região parece condenada. O estado do Funchal é o reflexo do que se passa na Madeira: uma Região sem liderança política clara, sem alternativa partidária sólida e sem sociedade civil ativa. O que se passou com Eduardo Jesus na Assembleia Legislativa Regional, noutro sítio qualquer teria sido motivo mais do que suficiente para despertar um qualquer sobressalto cívico que levasse à sua demissão imediata. Como é da Madeira que falamos, nada se passou e nada se passará. Por mais grave que algumas coisas sejam, tudo acaba por parecer irrelevante e inconsequente. À Madeira já não sobra nem uma ideia de futuro, nem um fogacho de esperança que se acenda com novos protagonistas. Resta o derrotismo e pessimismo de quem se condena a si mesmo ao fatalismo do estado de sítio a que chegámos, sem mudanças possíveis no horizonte - a não ser de partido, pelos troca-tintas interesseiros da praxe.
3. O Marítimo
Finalmente, o Marítimo: o estado a que o maior clube da Madeira chegou também é só mesmo mais um reflexo do estado da Região. Numa terra sem lideranças claras e sem qualquer cultura de exigência coletiva, passou a aceitar-se tudo com normalidade e com o conformismo de quem é incapaz de acreditar que é possível mais e melhor. As últimas três épocas terminaram como se sabe, com insucessos desportivos progressivamente piores, mas chegados aqui nada de estrutural mudou verdadeiramente. À entrada para uma nova época, ninguém sabe, outra vez, com o que contar realmente: se a contratação de um novo treinador, os reforços pré-anunciados e a possível existência de um investidor interessado fazem acreditar numa época melhor, a ausência de confirmações, de clareza na comunicação e de rigor nos objetivos definidos colocam-nos novamente em terreno incerto. A situação dúbia em que o Marítimo vive, entre o anúncio permanente de uma possível crise financeira e a histórica ambição desportiva que nos alavanca, não interessa ao clube, mas interessa a quem prefere navegar à vista, sem compromisso e, por isso, sem responsabilização consequente.
A vida coletiva requer liderança, compromisso e exigência. No momento em que vivemos, não é nada disso que encontramos na Madeira. Talvez a ida a banhos nos faça bem.