Gaza: o holocausto silencioso do nosso tempo
O que se passa em Gaza não é apenas mais uma guerra. É um extermínio em massa de um povo que vive há décadas encurralado entre o radicalismo de uns e a opressão sistemática de outros. E é, acima de tudo, um retrato brutal da passividade moral do nosso tempo.
Israel bombardeia bairros inteiros onde não há rotas de fuga. Declara “zonas seguras” que minutos depois se tornam crateras fumegantes. Usa fome, sede e terror como armas de guerra. As imagens que chegam — quando chegam — são de horror indescritível: crianças mutiladas, pais a escavar ruínas com as mãos, hospitais reduzidos a pó. Não há desculpa possível. Não há contexto histórico, político ou religioso que justifique a eliminação sistemática de civis.
Sim, o Hamas é uma organização terrorista. Sim, cometeu crimes. Mas isso não pode servir de pretexto para transformar Gaza num matadouro. Os palestinianos não são o Hamas. Castigar um povo inteiro por causa de um grupo radical é, em si mesmo, terrorismo de Estado.
O Ocidente — esse mesmo que se ergueu com força e sanções perante a invasão russa da Ucrânia — assiste agora em silêncio ensurdecedor. A moral internacional tornou-se seletiva. Há vidas de primeira e de segunda. A morte de uma criança palestiniana parece não indignar da mesma forma. Porque não aparece nas televisões com o mesmo destaque? Porque não merece as mesmas manchetes, as mesmas cimeiras de emergência?
A ONU denuncia. O Tribunal Penal Internacional investiga. Mas as bombas continuam a cair. O cerco mantém-se. A água escasseia. Os alimentos não entram. E o mundo civilizado continua a “reunir”, a “avaliar”, a “lamentar profundamente”. O povo não pode se exilar pois não podem passar nenhum das suas fronteiras !
Basta. A História julgar-nos-á por este silêncio. E será impiedosa.
Israel tem o direito de existir em segurança, e sim obviamente os palestinianos também o têm. Têm direito à vida, à terra, à dignidade. Têm direito a não morrer soterrados debaixo dos escombros que o mundo inteiro viu cair. O que está a acontecer é uma violação sistemática do Direito Internacional Humanitário. E quem se cala, pactua. Eu já não o consigo !
Os que, como eu, acreditam numa democracia com rosto humano, não podem fechar os olhos. Não podemos relativizar. Não podemos aceitar que em pleno século XXI crianças sejam alvos militares. Que hospitais sejam zonas de combate. Que o bloqueio da ajuda humanitária seja uma arma e o silêncio, um escudo para os algozes.
Este não é um conflito entre iguais. É uma ocupação prolongada, é uma opressão histórica, é um massacre legitimado pela inação mundial. Gaza é hoje o nosso espelho mais negro. E cada dia que passa sem que se exija o cessar-fogo e a responsabilização dos culpados, é um dia em que a nossa humanidade morre um pouco mais.
Não há neutralidade possível perante o horror da morte indiscriminada ! Eu não me calarei.