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Salvar o planeta: intenções vastas, soluções escassas

A Alemanha encerrou as suas centrais de energia nuclear, ficando à mercê da Rússia; o que desencadeou uma crise energética em terras germânicas, aquando da invasão à Ucrânia (que foi financiada, indiretamente, por estas atividades). Esta é a epítome de uma série de decisões, tomadas pelos europeus, que soam bem, mas que são danosas. Hoje, estas centrais são inquestionavelmente mais seguras do que há 40 anos atrás. 70% da eletricidade em França é gerada por reatores nucleares.

A emissão de carbono na atmosfera continua a aumentar, ainda que a um ritmo inferior ao passado. Os responsáveis europeus sabem disso, mas fingem ser arautos do combate às alterações climáticas. Algo que, por coincidência, reforça a sua capacidade de controlo sobre as populações. A China é responsável por aproximadamente 35% das emissões globais de CO₂. É também o maior parceiro comercial da União Europeia para importações, tendo representado 21,3% do total das importações extracomunitárias, em 2024. Os incentivos estão virados para que a China continue a tirar proveito deste contexto. Certo é que mesmo para desenvolver mecanismos de energia renovável mais eficientes e sustentáveis, é preciso alocar os devidos recursos necessários a atividades de investigação e desenvolvimento, e de forma urgente. No que toca à indústria automóvel, os chineses tem ‘dado cartas’ neste parâmetro, com parcerias público-privadas ‘à mistura’. Os carros elétricos chineses vieram para substituir os automóveis europeus.

A Europa poderia estar na vanguarda desta inovação, mas escolheu não estar. Por exemplo, a China e os E.U.A. lideram os progressos realizados na eficiência dos painéis solares. Do outro lado do Atlântico, os efeitos colaterais desta ‘estagnação Ocidental’ ajudam a explicar a viragem ‘à direita’ do CEO da Tesla, Elon Musk. Por cá, proibimos o “fracking” mas importamos gás de xisto dos E.U.A. Fazemos acordos comerciais com o Mercosul que promovem o desflorestamento na América do Sul. A U.E. falha em salvar o planeta e resvala para um declínio socioeconómico.

É clarividente que este é um tema complexo e repleto de paradoxos, já que as potências referidas são também as mais poluentes do mundo. Ainda assim, a Europa perde autoridade moral ao financiar e promover estes comportamentos, fruto da sua falta de estratégia. Não surpreende que países em desenvolvimento desprezem a agenda climática pelas suas contradições, que dão azo a termos como ‘neocolonialismo climático’. Aos poucos, vamos perdendo a nossa influência política. Vamos perdendo a nossa capacidade de moldar o mundo para melhor.

Ao sermos responsáveis com palhinhas, podemos salvar tartarugas, e bem. Contudo, não é isso que vai salvar o planeta. Se queremos um combate sério às alterações climáticas, as soluções passam por carros elétricos, energia nuclear e uma visão estratégica de longo prazo. Não me parece passarem por Greta Thunberg e os amigos que viajam de jato privado para o World Economic Forum, em Davos, Suíça.