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A tolerância também nos salva

Até o Governo da República cedeu ao populismo e propôs uma lei discriminatória

A liberdade é um dos valores mais apreciados nos regimes democráticos. É graças a esse direito que nos é permitido, dentro dos limites das regras de convivência social e exercício da cidadania, fazer escolhas como cidadãos.

Os Estados Democráticos têm essa premissa em comum: o Estado promove as balizas legais e proteção, maior ou menor, consoante as políticas implementadas, mas há uma margem alargada de liberdade que nos é conferida. É com base nesse direito que nos é permitido fazer escolhas como viajar, trabalhar ou estudar fora do nosso país.

É também com base nesse direito reconhecido pelas democracias que somos acolhidos pelos países estrangeiros onde escolhemos morar e onde é admitido manter as nossas tradições e preservar a nossa cultura e religião. Os emigrantes portugueses fazem mesmo questão de levar a sua cultura e até a sua prática religiosa, com procissões e festas inclusive.

Se os nossos antepassados, vendo-se forçados a sair de um país de miséria e de ditadura, escolheram países democráticos para refazer a sua vida, não nos devemos surpreender que outros escolham Portugal para viver. De igual modo, não nos devemos surpreender que queiram manter as suas tradições e a sua identidade cultural.

No entanto, vejo muita gente “de bem” que se arroga na defesa dos nobres valores democráticos, mas quer impor limites à liberdade dos cidadãos não naturais, como se os portugueses fossem mais merecedores de direitos do que outros. Como se a minha liberdade fosse mais legítima do que a do outro cidadão em função do seu país de origem ou da sua condição social.

Até o Governo da República cedeu ao populismo e propôs uma lei discriminatória que penaliza os imigrantes pobres e beneficia os ricos e qualificados. Aos pobres exige um visto de trabalho emitido pelo consulado português no país de origem; aos ricos e altamente qualificados permite a entrada livre, podendo obter um visto de procura de emprego.

Há uma discussão deturpada por filtros ideológicos que contrastam com os valores democráticos. Quando vejo portugueses a exigirem que outros assimilem a nossa cultura, estão a defender a supressão da liberdade de escolha dos outros. A integração de um imigrante no país de acolhimento não obriga ao esquecimento da cultura de origem.

Ouço e leio umas tiradas do género: “se querem vir para Portugal têm de se adaptar à nossa cultura.” Mas porquê? São menos livres do que nós, no nosso país? São inferiores ou menos pessoas do que nós? Que sorte têm aqueles que nasceram em estados ditatoriais e opressores? Quem entra no nosso país deve cumprir com as nossas leis, nem mais nem menos do que os Portugueses. Não há direitos para portugueses e deveres para estrangeiros. Nem o inverso.