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Mensagem ao Senhor Primeiro-Ministro

Hoje é dia da “Festa do Chão da Lagoa”. No passado, a “Festa” já foi maior. Maior em número de pessoas e maior na alegria. Era dia de encontrar “amigos” que não se encontravam sempre. No tempo onde ainda existiam amizades na política. Onde havia respeito mútuo pelas ideias, mesmo que divergentes, e honestidade de carácter. No entanto, continua a ser um dia para apanhar um grande escaldão. É dia de protetor solar 50+ várias vezes ao dia.

Sempre houve os “cínicos”, os “lambe-botas”, os que só apareciam em determinados eventos para garantir um lugar, os que nada faziam, mas queriam aparecer. Eram a minoria e eram facilmente identificados. “Cantavam” mais do que faziam. Mas, a grande maioria que lá estava, fazia-o por amor à camisola. Por acreditarem que estavam a ajudar a construir um futuro melhor para a nossa Madeira. Unia-nos a ideia de construir um futuro melhor para todos. Era dia de muita alegria e muitos abraços. Mas, hoje, tudo mudou. Os que eram minoria agora são a maioria. E não vão faltar “ilustres” para tirar uma foto com Montenegro.

O ano passado, Montenegro achou por bem não comparecer à Festa do Chão da Lagoa. A associação ao PSD regional era “perigosa” para futuros resultados eleitorais, face ao contexto político de investigações do Ministério Público na Região. Mas este ano, lá vem o Presidente do PSD a nível nacional, que também é, por acaso, Primeiro-Ministro de Portugal, à Festa do Chão da Lagoa. Houve eleições e os resultados foram o que foram.

Contudo, na minha opinião não escolheu bem o dia da “Festa” para estar presente. Porque hoje também é dia de greve dos motoristas de transportes terrestres na Madeira. É uma incógnita como irá ser a adesão ao Chão da Lagoa. Tudo depende de quantos motoristas aderirão à greve. Deve haver muito nervosismo. Certo e sabido é que falharão muitas carreiras normais de transporte de passageiros. Para além de ser domingo e ser dia de menos carreiras, a probabilidade de “desviarem motoristas” a trabalhar em dia de greve para garantir o transporte para o Chão da Lagoa é grande. É que não se compreende que exista transporte para o Chão da Lagoa, com motoristas em greve e a não estar garantido transporte público que é para isso que a empresa SIGA existe.

Tem a certeza que está garantido um serviço mínimo de transportes de pessoas no dia de hoje? É que nem todos folgam ao domingo. E nem todos vão ao Chão da Lagoa. Existe mais vida do que a política. Sabe o que significa uma empresa pública dar prioridade a uma festa política do que ao serviço público de transporte de pessoas? Questão para se colocar se é uma empresa pública, ou ao serviço político. Pense nisto. E se é prudente afirmar que somos exemplo para o país.

Curioso é que veio a público uma notícia a 16 de julho de que a empresa “Horários do Funchal tem ordem do Governo para receber Sindicato de Motoristas”. Mas tanto quanto me é dado a conhecer, tal reunião não ocorreu. A luta dos trabalhadores por mais 30 euros no seu salário é mais do que justa, atendendo ao trabalho que efetuam e à responsabilidade que têm no transporte de tantas pessoas. A união faz a força. E só com a união desta classe trabalhadora ser-lhes-á dado o que merecem. A falta de resolução deste problema é má vontade, ou andam a fugir à responsabilidade das decisões?

Aconselha-se fortemente ao Senhor Primeiro-Ministro que resista à tentação de dizer que a “Região é um exemplo para o país”.

Se o fizer, então diga lá se nos outros hospitais do país registam-se também falta de medicamentos. Tenho curiosidade em saber qual o estado da Nação. E sobre este assunto, seria interessante saber a lista dos medicamentos em atraso na Região e por quanto tempo cada um ficou em atraso. Já agora, será útil também esclarecer aos leitores regionais que a resposta dada esta semana de um fornecedor de apenas um medicamento em falta noticiado pelo Diário de Notícias, foi de que e cito está “ciente das dificuldades que, por vezes, os hospitais enfrentam na emissão atempada das Notas de Encomenda”. Ora, se não houve emissão atempada de “Notas de Encomenda”, isto é muito grave. Com esta resposta está-se a afirmar que não existe boa gestão e responsabilidade por parte do Conselho de Administração do SESARAM, nomeadamente da gestão de stocks dos medicamentos necessários para a população. E se é assim, alguém foi nomeado para o lugar errado sem competência para exercer o cargo. Precisamos de bons gestores públicos.

No entanto, o problema pode ser mais graúdo do que se possa pensar. É que o Governo Regional já admitiu publicamente, no passado, não ter pago dívidas a fornecedores farmacêuticos com atrasos em mais de 1 ano. Afinal como estão estas contas?

Os partidos que progridem são aqueles que são capazes de gerir as diferenças de opiniões de forma tranquila e onde se consegue, no final, que todos remam no mesmo sentido. Uma administração ideal, seja de empresas, de governo, de partido e até dentro de casa, não é aquela que não aceita opiniões divergentes e impõe a sua opinião, mas sim aquela que sabe gerir conflitos. Diálogo e boa vontade com responsabilidade.

E união não significa castrar opiniões divergentes. Este tipo de atitude, em política, associa-se ao regime soviético. Não a uma democracia.