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Análise

Por onde anda o primeiro-ministro?

1.Se o cinismo e o tacticismo político pagassem impostos, muitos dos nossos actores de topo estariam a contrair empréstimos para saldar dívidas ao erário.

Luís Montenegro está hoje na Madeira enquanto presidente do PSD, num território que conhece bem, e do qual também já se afastou quando o contexto se tornou incómodo. Esteve presente quando lhe convinha, sujeitou-se à poeira do Chão da Lagoa, brindou com os locais nas barracas apinhadas de álcool e soltou loas à Região e a Miguel Albuquerque. Mas quando a Justiça irrompeu no centro do poder laranja madeirense, enviou o líder parlamentar como escudo humano para o embaraço que representava então o presidente do PSD-M. Não era politicamente conveniente ser visto de braço dado com arguidos, sobretudo em vésperas de campanha.

Regressa agora, embalado por um PSD-M politicamente revitalizado, com um líder que soma 14 vitórias eleitorais consecutivas e que, apesar de manter a condição de arguido, se mantém intocável num país onde os processos se arrastam, os suspeitos não são ouvidos e a Justiça arde em lume brando. Uma vergonha a que o poder político não põe termo.

Curiosamente, Montenegro volta sem que as principais reivindicações regionais tenham sido resolvidas. Conhece-as de cor e salteado. Se aproveitar o palco do Chão da Lagoa para anunciar algum rebuçado, faz mal — os madeirenses precisam de compromissos de Estado, não de promessas de ocasião ditas em comícios partidários. A Madeira precisa de pactos que transcendam calendários eleitorais. E esses só podem ser selados por primeiros-ministros. O resto é poeira e propaganda.

2. O que se tem revelado sobre os candidatos às próximas autárquicas, marcadas para 12 de Outubro, expõe uma preocupante falta de renovação e de criatividade por parte dos partidos, sobretudo dos maiores. É o eterno ‘baralhar e dar de novo’, com os mesmos nomes, as mesmas fórmulas, os mesmos vícios. Meio século de autonomia ainda não conseguiu gerar uma nova vaga de cidadãos com vontade de servir a causa pública. Gente com ideias, coragem e sentido de missão. Aguardemos pela campanha e, sobretudo, pelos debates.

3. As redes sociais tornaram-se, em simultâneo, veículos de manipulação e pastagem fértil para a desinformação. A maioria já não vive sem elas, e muitos ainda caem no conto do vigário digital. Toda a gente se acha juiz, médico ou jornalista. Na semana passada, um motorista dos Horários do Funchal entrou de autocarro no acesso ao Serviço de Urgência para socorrer um passageiro em apuros. Agiu bem. Provavelmente salvou-lhe a vida. O DIÁRIO, perante as dúvidas levantadas por leitores sobre a legalidade da manobra, decidiu elaborar um Fact Check. Conclusão: o condutor não infringiu o Código da Estrada. Mesmo assim, bastou o título para provocar um enxame de críticas nas redes, acusando o nosso jornal de estar a julgar um “acto heróico”, o que não era, de todo, o propósito da verificação jornalística. O objectivo era apenas esclarecer, para o bem e para o mal a situação ocorrida.

Este episódio é um exemplo claro de como se pode distorcer, replicar e amplificar um conteúdo de forma errada e maliciosa. Contra isto devemos, todos, erguer a voz. Uma sociedade desinformada é uma sociedade vulnerável e isso é perigoso para a democracia.