Estima-se que Portugal tenha cerca de 2,7 milhões de adultos entre os 30 e os 79 anos hipertensos
A hipertensão arterial (HTA) continua a ser uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo e o principal factor de risco para as doenças cardiovasculares. Segundo o Global Report on Hypertension da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2023, estima-se que Portugal tenha cerca de 2,7 milhões de adultos entre os 30 e os 79 anos com HTA.
O controlo eficaz desta condição crónica frequentemente assintomática – mas com elevado risco de complicações como enfarte, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal – é um dos grandes desafios globais e “Portugal ainda está longe de controlar eficazmente a doença”, alertam os especialistas.
Tensão e hipertensão arterial
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a tensão arterial resulta da força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias.
Por conseguinte, a hipertensão arterial – vulgarmente designada de “tensão alta” – caracteriza-se por uma pressão sanguínea excessiva na parede das artérias, acima dos valores considerados normais, que ocorre de forma crónica.
Define-se hipertensão arterial é quando a pressão máxima é maior ou igual a 140 mmHg (vulgo 14), ou a pressão mínima é maior ou igual a 90 mmHg (vulgo 9).
O que causa a hipertensão arterial?
A hipertensão arterial pode ser causada por:
- Stress
- Excesso de peso
- Ingestão excessiva de sal, açúcar ou de álcool
- Tabaco
Também pode ser causada por doenças ou determinadas condições, como:
- Apneia do sono
- Doença renal
- Síndrome de Cushing
- Feocromocitoma
- Hiperaldosteronismo primário
- Coartação da aorta
- Doença tiroideia e paratiroideia
- Contraceptivos orais, descongestionantes nasais, fármacos dietéticos
- Gravidez
Quais são os sintomas?
Na maioria dos casos, a hipertensão arterial desenvolve-se de forma assintomática, o que dificulta o seu diagnóstico precoce, valendo-lhe o epíteto de uma doença “silenciosa”.
No entanto, com o decorrer dos anos, a pressão arterial excessiva acaba por danificar precocemente os vasos sanguíneos e os principais órgãos do organismo, como o cérebro, o rim e o coração, podendo provocar sintomas como:
- Dores de cabeça
- Tonturas
- Zumbidos
- Aumento dos batimentos cardíacos
- Dor no peito
- Falta de ar
O risco agrava-se na presença de outros factores como diabetes, obesidade ou sedentarismo.
Controlo
Apesar da sua elevada prevalência, menos de metade dos doentes estão medicados, e apenas 11,2% dos doentes hipertensos têm a sua pressão arterial devidamente controlada, segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS).
Outros estudos como o PHYSA (Portuguese HYpertension and SAlt Study), realizado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão, mostram um controlo um pouco melhor (42%), mas ainda assim a maioria dos doentes não está devidamente controlada.
Já o estudo GPHT-PT – conduzido pelos médicos Jorge Polónia, consultor de Medicina Interna na ULS de Matosinhos e professor catedrático da FMUP, e Raul Marques Pereira, especialista de Medicina Geral e Familiar na ULS do Alto Minho – revelou que “uma abordagem baseada nas guidelines internacionais e no seguimento próximo dos doentes pode levar a uma taxa de controlo da hipertensão arterial de até 82% em cuidados de saúde primários”.
Estes resultados – publicados na revista científica Blood Pressure (2024) e divulgados recentemente grupo internacional farmacêutico Recordati – demonstram que “é possível melhorar significativamente o controlo da HTA em Portugal, quando se aplicam estratégias terapêuticas estruturadas”.
Contudo, o mesmo estudo também evidencia que menos de metade dos doentes hipertensos em Portugal estão medicados, o que “sublinha a necessidade de uma resposta mais robusta e uniforme por parte do sistema de saúde”.
Dada a importância dos dados obtidos, encontra-se já em preparação a segunda fase do estudo GPHT-PT, que irá continuar a acompanhar os mesmos doentes para avaliar a eficácia das intervenções implementadas.
“Este trabalho reforça o papel da medicina geral e familiar e da organização dos cuidados de saúde primários na resposta à HTA. A estratégia deve continuar a apostar na educação para a saúde, nos rastreios e na adesão à terapêutica”, afirma médico e professor Jorge Polónia, citado em nota de imprensa.
Prevenção
Embora não tenha cura, a hipertensão arterial pode ser eficazmente tratada e controlada com recurso à terapêutica adequada e à adopção de estilos de vida saudáveis.
As autoridades de saúde recomendam:
- Não fumar
- Reduzir o consumo de sal
- Praticar atividade física regularmente
- Evitar o consumo excessivo de álcool
- Manter um peso saudável
“Estas medidas, associadas ao acompanhamento médico e à adesão à medicação, são fundamentais para reduzir o risco de complicações”, sublinham os especialistas.
Como e quando devo medir a pressão arterial?
O SNS indica que “todos os adultos (≥18 anos) devem avaliar a sua pressão arterial nas visitas médicas, e deve ser registada no seu processo clínico”, salientando que antes da avaliação da pressão arterial se deve:
- Evitar fumar e consumir café
- Descansar na posição sentada pelo menos durante 5 minutos
No acto de medição, as costas e os braços devem estar apoiados e devem ser obtidas três medições da pressão arterial com 1-2 minutos de diferença. O valor de pressão arterial a considerar resulta da média das duas últimas avaliações.
Na primeira avaliação médica deve ser avaliada a pressão arterial nos dois braços, e nas avaliações seguintes deve utilizar-se o braço com o valor mais elevado.
A repetição da avaliação deve ser feita:
- A cada 5 anos, quando apresentar valores de pressão arterial <120/80 mmHg
- A cada 3 anos, quando apresentar valores entre os 120-129/80-84 mmHg
- Anualmente, quando apresentar valores de pressão arterial entre 130-139/85-89 mmHg
A pressão arterial pode ser medida no consultório do médico, em casa, através de monitorização ambulatória da mesma (MAPA).
“Em todos os casos, é importante que a pressão arterial seja medida cuidadosamente utilizando um equipamento validado pelo seu médico ou farmacêutico”, recomenda ainda o SNS.