O presente é o tempo real onde tudo está a acontecer
“O futuro começa agora”, “o futuro é hoje”, são frases que me impressionam pela subtileza de anular o presente como se este, o agora, o momento vivido, pudesse passar despercebido entre o passado e o futuro. A ligeireza desta tendência em expansão desqualifica a realidade presente apostando na idealização de um futuro, que apenas serve para vender. Da política, aos produtos de supermercado, a passar por alguma literatura de autoajuda, há como que um empurrão da realidade para o abstrato, numa lógica de “banha da cobra”: acreditem no que vos prometemos não prestando atenção, nem dando crédito ao que estão a ver. Quem diz ver, diz sentir.
O presente existe. Permite-nos sentir pertença, ligação, conexão, experiência, aprendizagem. Olhar o passado para continuar a construir, reconstruir, ou anular para recomeçar. O presente é o tempo real onde tudo está a acontecer. Temos que estar atentos, lúcidos, focados. A ideia de um presente fugaz, tempo de passagem, é irreal e perigoso para o crescimento e desenvolvimento da humanidade. Tudo o que está a acontecer hoje é presente, aqui e agora.
Para os mais jovens, que naturalmente são os mais influenciados por esta tendência que vem a construir-se há algumas dezenas de anos, esta ideia de “tudo há pressa”, com olhos no futuro, tem criado uma ansiedade de desempenho excessiva, que não facilita a natural conquista de competências de vida, e, ou, estados de desânimo, tantas vezes a desaguar em estados depressivos. Os adolescentes e os jovens adultos estão cada vez mais a pedir ajuda para conseguirem sentir o presente e aprenderem a viver em paz. Precisam de tempo. Há uma idade real, uma maturidade, um tempo para crescer, um presente para viver. O futuro vem depois, faz parte da evolução mas não é a prioridade. Hoje, eles querem saúde mental.
O tempo de vida e de crescimento é precioso e não podemos permitir que nos enganem, nem enganem as gerações mais novas, em função dos interesses comerciais e políticos, cujo objetivo final é o poder. Sei que não é fácil passar ao lado desta constante pressão que nos baralha entre o bom e o mau uso das estratégias, e o lugar onde nos pretendem colocar. Cada vez temos de estar mais atentos ao que somos, ao que queremos, sem nunca esquecer o lugar onde temos que permanecer. A nossa individualidade. É muita fácil entrar na engrenagem permitindo que nos conduzam através da falsa crença que nós é que estamos a decidir.
A inteligência artificial já chegou e com tudo de bom que vai trazer à evolução da ciência e da tecnologia não podemos ignorar o mau uso e abuso que também já começou a acontecer. Pela nossa saúde mental e pelo presente dos nossos jovens há que permanecer lúcidos e atentos.