Juventude à Prova
Coincidência do calendário, o Dia Mundial das Competências dos Jovens, que se celebra hoje, coincide este ano com a divulgação das notas da 1.ª fase dos exames nacionais em Portugal. Entre a ansiedade de quem consulta a pauta e as escolhas para o futuro, torna-se inevitável refletir sobre que competências dos jovens verdadeiramente valorizamos, e quais continuamos a negligenciar.
A vida dos jovens de hoje faz-se num mundo em transformação constante e acelerada, a um ritmo quase incompatível com os modelos educativos que herdaram. Dominam ferramentas digitais com naturalidade, mas ainda procuram um lugar num mundo onde a inteligência artificial já não é um conceito futurista nem uma promessa distante, mas algo presente no dia a dia, a moldar decisões, a reconfigurar empregos, a desafiar sistemas educativos.
Nem de propósito, este ano, o Dia Mundial das Competências dos Jovens decorre sob o lema “Capacitação dos jovens através da IA e das competências digitais”.
Mas estaremos realmente a preparar os nossos jovens para um mercado de trabalho onde profissões desaparecem, outras nascem a um ritmo que desafia as universidades e os próprios sistemas educativos, e mais de metade dos empregos do futuro ainda nem sequer têm nome?
Por outro lado, a precariedade e o desajustamento entre a formação e as necessidades do tecido empresarial continuam a ser obstáculos sérios. E é aqui que a reflexão se impõe: queremos formar pensadores, líderes, cidadãos ativos e conscientes ou meros bons executantes?
A juventude está, assim, mais uma vez, à prova, não só através dos exames, mas nas promessas que a sociedade lhe faz e, tantas vezes, adia. Porque preparar os jovens para o futuro não é só ensiná-los a resolver equações ou interpretar textos. É dar-lhes espaço para sonhar, errar, recomeçar. É equipá-los com ferramentas que os tornem autónomos, conscientes e comprometidos com o mundo que os rodeia. E que reconheça que formar competências não é apenas preparar para o mercado de trabalho, mas para a vida.
Cada vez mais, o mundo laboral já não se contenta com diplomas pendurados nas paredes, exige capacidades interpessoais, pensamento crítico, domínio digital, espírito de iniciativa, ética e uma resiliência que nem sempre se aprende nos manuais. São estas as competências que o século XXI exige.
Há mérito, claro, nos que atingem médias brilhantes e veem as suas escolhas abrir-se como portas largas. Mas há também mérito, que muitas vezes passa despercebido, nos que não brilham nas pautas, mas brilham na vida. Naqueles que transformam uma nota menos boa numa oportunidade de superação. Nos que descobrem que a sua vocação pode estar fora do percurso académico tradicional. Nos que aprendem, desde cedo, que o valor de uma pessoa não se resume a um número. Os exames, por mais estruturantes que sejam, são apenas uma parte do percurso. O que verdadeiramente define o futuro de um jovem não é uma nota, mas a soma de aprendizagens formais e informais, a forma como lida com a adversidade, a capacidade de trabalhar com os outros, de comunicar, de persistir. E tudo isto se cultiva nas salas de aula, nos corredores das escolas, nas conversas rápidas entre intervalo e toque, nas palavras certas ditas no momento certo por um professor atento e no apoio constante, e muitas vezes “chato”, de pais que se preocupam.
Num tempo em que se fala tanto de algoritmos e inovação, importa relembrar que nenhuma tecnologia substitui a presença humana e o olhar atento de quem educa, orienta, inspira.
Um reconhecimento público, como mãe de uma jovem estudante, aos professores, verdadeiros agentes de transformação social, pilares de estabilidade em contextos instáveis, e, no entanto, muitas vezes tratados como peças secundárias no xadrez político.
Se queremos que os jovens estejam preparados para um mundo moldado pela inteligência artificial, com desafios ecológicos, económicos e sociais à escala global, então, é urgente investir também em quem os prepara. Um sistema educativo forte exige professores valorizados, com tempo, com meios, com voz. Sem isso, a “capacitação dos jovens” será apenas mais um chavão bonito.
Mais do que marco simbólico no calendário das Nações Unidas, que este dia 15 de julho, Dia Mundial das Competências dos Jovens, seja uma data de compromisso.
Um verdadeiro compromisso político, económico e social, com políticas públicas de longo prazo, com estratégias coerentes, com diálogo entre escolas, empresas, universidade e comunidade.
Um compromisso com os jovens que hoje esperam por uma nota, mas que amanhã vão liderar empresas, equipas, projetos, comunidades. Jovens que são muito mais do que candidatos a cursos. São os futuros médicos, técnicos, cientistas, empreendedores, cuidadores, artistas e decisores de uma Região e país que precisa desesperadamente de visão e coragem.
A esperança de um futuro mais justo, mais qualificado e mais inclusivo reside, precisamente, na forma como tratamos esta geração. Precisamos dar aos jovens não só competências técnicas e tecnológicas, mas também humanas, sociais e emocionais. Não basta saber. É preciso saber fazer. E, mais do que isso, saber ser. E é aí que tudo começa, ou falha.
Porque o futuro não se adivinha, constrói-se. Com jovens preparados para um mundo novo e adultos dispostos a não os deixar sozinhos neste caminho que se quer feito de conquistas e esperança.