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Os perigos da exposição a microplásticos

Alertas deixados pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Os microplásticos são pequenas partículas de plástico, com menos de 5 milímetros de diâmetro, encontradas em todo o mundo, incluindo oceanos, água, solo e ar.

A presença destes em ambientes marinhos, na água potável e até mesmo em alimentos levanta preocupações sobre os potenciais impactos na saúde humana e no ecossistema. 

Saiba agora quais os perigos da exposição a microplásticos, tendo em conta um recente estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

A exposição a plastificantes e microplásticos constitui um perigo para o normal funcionamento da tiroide e um risco para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, começa por explicar a FMUP, dizendo que em causa estão os ftalatos, substâncias químicas utilizadas principalmente em produtos de plástico, como PVC (plástico de cloreto de polivinil), para torná-los mais flexíveis.

A equipa da FMUP analisou dados de mais de 5.600 crianças e adolescentes de vários países e reuniu, lê-se no resumo enviado à Lusa, "evidências suficientes para concluir que a exposição aos ftalatos causa alteração na função da glândula tiroide com um aumento nos níveis de hormona T3 e uma diminuição nos níveis hormona T4 total".

O estudo foi publicado em Janeiro na revista médica European Journal of Pediatrics com um alerta dirigido aos médicos, nomeadamente pediatrias, e às autoridades de saúde.

"Ao longo das décadas que usamos plásticos, começou-se a perceber que estes ftalatos têm impacto na saúde humana e em quase todos os organismos vivos. Infelizmente, vivemos com eles por todo o lado. É quase impossível comprar algo no supermercado sem um plástico. Até os suminhos das crianças têm um plástico à volta". Professora da FMUP, Augusta Coelho

Em declarações à Lusa, a investigadora considerou que os pediatras têm um papel crucial ao educar os pais sobre a exposição aos ftalatos e sugerir medidas preventivas, como uso de vidro ou aço inoxidável para armazenar alimentos, e evitar aquecer comida em recipientes plásticos, entre outras.

"Não nos podemos enganar a nós próprios: actualmente com o nosso nível de civilização e a procura de conforto que buscamos é muito difícil não termos contacto com os microplásticos. Há medidas que eu posso enumerar, mas sinceramente acho que isto merece uma reflexão mais política, mais global, a pensar no que vamos oferecer às gerações futuras", disse.

Além dos riscos para a saúde já conhecidos, especialmente no que diz respeito às alterações hormonais e à saúde reprodutiva, este estudo da FMUP vem reforçar os potenciais riscos dos ftalatos para o neurodesenvolvimento das crianças.

Os ftalatos são plastificantes amplamente utilizados na indústria dos plásticos que estão presentes em muitos bens de consumo, incluindo embalagens de alimentos e vestuário. Também são utilizados em produtos de cuidados pessoais, como sabonetes, champôs, 'sprays' para o cabelo, perfumes e vernizes, e em vários brinquedos infantis, incluindo lápis de cera, insufláveis, massa de modelar e tintas. Estas substâncias podem entrar no organismo por ingestão, absorção cutânea e inalação.

"Os resultados do nosso estudo realçam a importância de minimizar o contacto com plastificantes e microplásticos no ambiente", frisou Augusta Coelho, lembrando que hoje, "e bem", se investe muito na conversa com os pais sobre questões de segurança, "como colocar a cadeirinha no carro", por exemplo, e se deve aproveitar para "parar um bocadinho e motivar os pais a ter comportamentos de proteção das crianças em relação aos microplásticos".

"A população, os jovens, também é bastante ativa nestas campanhas. Acho que isto deve ser falado nas escolas, Não sabemos ainda qual é o impacto que esta geração terá mais tarde, daqui a décadas, por ter sido sujeita a um elevado nível de exposição aos ftalatos", sublinhou.

De acordo com a especialista, a União Europeia (UE) tem tomado medidas para reduzir a exposição dos cidadãos a estas substâncias, mas fora da UE, não são regulamentados da mesma forma devido às suas diferentes aplicações. Assim, produtos contendo esses ftalatos podem ser encontrados no mercado da UE.

O estudo aponta ainda que a UE está ainda a definir limites legais para a concentração de certos ftalatos (DEHP, BBZP e DNBP) em materiais em contacto com alimentos.