Sensibilidades…
As pessoas andam muito sensíveis. Não se pode dizer nada nem brincar com determinada situação. Temos que ter cuidado com o que dizemos, o que escrevemos e com as brincadeiras que fazemos uns com os outros porque podemos acabar julgados por quem não nos conhece e quem não sabe nada de nós. Quando andava na escola havia a velha máxima do gordo ir sempre à baliza porque tinha menos destreza física (também é uma forma de inclusão ou não?!), quem usava óculos era caixa de óculos ou quatro olhos, o trinca espinhas, anão, badocha, dumbo, o mariquinhas, bruta montes e outros que mais. Cada um safava-se à sua maneira, sem queixinhas ou redomas. Na selva da infância todos éramos uma personagem e ganhávamos o respeito dos outros também pelo poder de encaixe. Preparava-nos para a vida e tornávamo-nos mais fortes. Quanto mais nos agachávamos mais insistiam e se não dávamos caso, rapidamente mudavam a agulha. Foi assim que cresci e não me recordo de alguém ter levado para a vida esse complexo ou condição. Respondíamos à letra e entravamos na picardia, na provocação um tanto ou quanto inocente mas que aos olhos de hoje seria visto como ofensa capaz de um qualquer processo disciplinar.
Neste nosso tempo parece que não aprendemos nada. As pessoas refugiam-se nos telemóveis, comunicam através de ecrãs, insuflam egos através de fotografias cheias de filtros ou desenhadas pela inteligência artificial e procuram transmitir aos outros muito pouco do que é a realidade. Fogem da verdade porque alguém lhes disse que isso é feio, somos constantemente censurados e querem transformar os mais novos em delicadas porcelanas que ao mínimo embate estalam e partem. Acredito que ao alimentarmos isso, permitimos que se afundem num poço, tal é a realidade paralela que lhes incutem, pouco sujeitos à critica ou ao confronto. As pessoas já pouco se relacionam, tremem ao mínimo toque físico e preferem as mensagens ou os likes para demonstrar uma espécie de afeto que não é mais do que um exercício narcisístico de aprovação própria para que enfim, possam ir dormir a achar que são os maiores do mundo. Quando mais tarde percebem que não são e ninguém lhes disse, cai o Carmo e a Trindade, uma alfinetada no balão. Olhando para trás, diria que se eu e os meus colegas estivéssemos agora a viver a nossa infância estaríamos a esta hora todos num psicólogo, uns por lhes serem diagnosticados hiper atividade outros por serem rotulados disto ou daquilo.
Andamos todos enrolados nesta forma de estar e de ser, que nos obriga a mostrarmos o que não somos e a vendermos um peixe que não é o nosso. Por isso é que quando finalmente as pessoas são “obrigadas” a passar um tempo juntas surgem as desilusões, discussões e as frustrações. Porque não nos conhecemos verdadeiramente. Andamos sempre à procura de algo que não existe, calçando sapatos que não são nossos em busca de uma vida fácil mas frugal. É isso que compramos com os olhos. Somos meros embrulhos que prevalecem sobre o conteúdo. Conjunto de frases feitas e dinâmicas programadas. Somos menos impulso, pouca espontaniedade, pouco amor. Quem está triste tem um problema, quem está feliz também. É o tempo dos falsos moralistas e dos inquisidores de sofá. Dos profetas da desgraça e dos púdicos. Bom é falar mal nas costas e baixinho. Perde-se a empatia em prol da estratégia, troca-se o momento pela fotografia. Parece que nos esquecemos de viver sem merdas.
Frases Soltas:
A semana passada por lapso não escrevi sobre o desaparecimento daquele que foi um dos maiores nomes da música portuguesa. Percussionista, produtor e professor o madeirense Luís Jardim trabalhou ao longo da sua carreira com alguns dos maiores nomes do panorama internacional. De Tina Turner a Elton John, ABC, a lendária Grace Jones, Rolling Stones, Paul McCartney, David Bowie,David Gilmour, Duran Duran, Tears for Fears, Goldie, Pet Shop Boys ou Björk. Faltou-lhe o reconhecimento, uma injustiça de um país que por vezes pouco mais consegue ver para lá do Big Brother e do futebol. Aqui fica a minha homenagem.
As televisões passaram a semana à porta de um tribunal por causa de uma crise de acne e de umas piadas. A piada neste caso faz-se sozinha. Sensibilidades...