O parágrafo
Num parágrafo da notícia de ontem do Diário sobre a lista do PSD-M à Câmara Municipal do Funchal podemos ver o estado a que isto chegou. É óbvio que ter alguém acusado por fraude como número dois da lista significa problemas. Desde logo e à cabeça, problemas com a lei. Mas sobretudo porque significa que a qualquer momento podem acontecer duas coisas (quiçá em simultâneo): a pessoa ser condenada e assumir a presidência da câmara.
Para um partido que quer passar a ideia de hegemonia absoluta, os episódios sucessivos de improviso e remendos na composição das listas autárquicas são reveladores de fragilidades. Nem o mais zeloso membro de um exército de lambe-botismo consegue disfarçar. Entre a escrita e a leitura deste texto, já terão ocorrido novas alterações, desmentidos e reordenações — tudo o oposto da imagem de estabilidade e ordem que o PSD-M tenta projetar.
Na página oposta à notícia de ontem do PSD-M (há coincidências que muito dizem) surgia o anúncio da candidatura de Luísa Paolinelli à presidência da Assembleia Municipal. A coincidência é simbólica: de um lado, um partido atolado em processos judiciais; do outro, uma candidatura que procura o melhor da sociedade civil. De um lado, o passado fechado e clientelista; do outro, uma visão aberta, cosmopolita e voltada para o futuro. É neste contraste que se vão disputar as eleições no Funchal.
A escolha é entre manter um arranjo que parece saído do século XIX e que nada consegue desenvolver de futuro, ou a aposta numa cidade livre e dinâmica, que investe na infraestrutura para resolver problemas de habitação e de trânsito, aposta na cultura como motor de desenvolvimento e nas áreas sociais (educação, solidariedade, saúde) como instrumento de capacitação e qualidade de vida em vez de mera caridadezinha.
É fundamental fazer um ponto final parágrafo na política assente no eixo dependência-sobranceria. O Funchal e a Madeira têm capacidade para muito mais e merecem muito melhor do que a política do insulto e da soberba. Incluindo porque o Funchal e a Madeira beneficiam hoje de um afluxo de habitantes que são na sua essência cosmopolitas. E é esse o lugar que merecemos reivindicar, o de cidadãos no mundo, num ponto de relevância geoestratégica, que tem consciência dos desafios globais que se nos apresentam e que consegue pensar numa escala que vai do micro ao macro, sem ficar circunscrito à vida paroquial.
Como cosmopolitas, habitantes da cidade no mundo, termos o dever de ser exigentes e de ter no ato eleitoral um contrato adulto entre eleitores e eleitos, que assenta no cumprimento de um programa eleitoral completo. E para tal é fundamental poder contar com alguém como o Rui Caetano, que nos dá confiança plena no cumprimento rigoroso desse contrato.