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Gaza, Irão e a Voz que a Europa Precisa de Ouvir

Enquanto cidadão da Madeira, da Europa e do Mundo, não posso assistir em silêncio ao que se passa em Gaza. É mais do que um conflito prolongado: é uma tragédia humanitária, onde o direito internacional parece suspenso e a dignidade humana esquecida. E é com preocupação crescente que observo a passividade de muitos governos europeus, incluindo o português, perante esta realidade.

O que se exige hoje não é partidarismo internacional, mas coerência ética. A União Europeia foi rápida a impor sanções ao Irão, como punição por práticas repressivas que, de facto, devem ser condenadas. Mas onde está essa firmeza quando se trata de Israel? O mesmo critério de exigência não se aplica. E isso, sejamos claros, compromete a legitimidade moral do projeto europeu.

Portugal, e a Região Autónoma da Madeira como parte ativa dessa construção europeia, não podem continuar a olhar para Gaza com apatia ou calculismo. O recente reconhecimento do Estado da Palestina é louvável, mas não chega. É necessário agir diplomaticamente, exigir cessar-fogo, corredores humanitários e responsabilização por crimes de guerra. A neutralidade, neste caso, tornou-se uma forma de cumplicidade.

Não se trata de comparar regimes nem de relativizar violências. O Irão é um regime repressivo, e deve continuar a ser pressionado. Mas se a Europa se apresenta como farol de direitos humanos, tem de aplicar a sua luz a todos os lados. Sem exceções.

Como madeirense, reconheço o valor da autonomia, da identidade e da autodeterminação dos povos. Gaza merece o mesmo. E a solidariedade que tantas vezes invocamos nos incêndios, nos desastres naturais ou nas crises económicas, deve agora estender-se a um povo encurralado, esquecido, e tantas vezes instrumentalizado.

É hora de Portugal, e em particular da Madeira através dos seus deputados na Assembleia da República, dizerem com clareza que não aceitam dois pesos e duas medidas. A política externa tem de ser fiel aos valores que proclamamos cá dentro: paz, liberdade e justiça. Essa será sempre a nossa melhor contribuição para o mundo — e o nosso melhor reflexo como povo.