Quem pode deve agir. Quem não pode limita-se a sugerir
Discutiu-se, por estes dias, na A.L.R. a aprovação do O.R 2025. Para a SAÚDE e PROTECÇÃO CIVIL foi alocada uma dotação de 557,1 Milhões de euros, beneficiárias da 2.ª maior componente do orçamento (dados referenciados no D.N.Madeira de 25/06/19).
Ao contrário do que diria o saudoso humorista Jô Soares, o meu negócio não é números e o único orçamento que controlo é o da minha casa. Contudo, e do alto da minha confessa ignorância na matéria, considero estar na presença de verba avultada que, como toda a coisa pública, deve observar uma gestão conduzida com ética, integridade e critério por parte de quem de direito, colocando sempre a Saúde no topo da lista de prioridades.
Neste sentido e perdoem-me a audácia, sugiro que à verba usualmente afectada às Instituições ou Organismos vocacionados para a prestação de serviços no que diz respeito à logística inerente à deslocação de doentes do Porto Santo para o Funchal, por razões de consulta médica de especialidade e ou tratamentos inexistentes na área da sua residência, se acrescente mais uns “tostões”. Para fazer face às despesas em questão. Perante situações constrangedoras vividas por pessoas com alguma vulnerabilidade e seus acompanhantes, facilmente se conclui que só por razões economicistas elas acontecem. São ordens, dizem-nos. E ordens são para cumprir, sem dúvida.
Os doentes deslocados, referenciados pelo Centro de Saúde local, (à excepção dos que apresentam comprovativo de aerofobia) são “obrigados a viajar de avião e voltar no próprio dia da consulta ou tratamento, sempre que seja possível, para não pernoitar no FNC, o que implicaria mais encargos pecuniários ao SESARAM.
Quando é necessário permanecer mais do que um dia o doente e acompanhante usufruem de alojamento em hotel, em regime de meia pensão e com direito apenas a uma refeição diária. Ou almoço ou jantar. Não é óptimo mas é melhor do que nada. O problema põe-se, sobretudo, quando um doente oncológico, depois do tratamento a que é submetido, não pode regressar ao hotel e tem de andar a deambular pela rua até à hora do regresso a casa, quando devia estar comodamente em repouso. Ninguém adoece para ir passear ou passar férias à Madeira. Mais. Se um doente for hospitalizado o apoio ao acompanhante resume-se ao transporte de regresso. Se quiser apoiar o seu familiar fá-lo-á a expensas próprias se tiver possibilidade ou deixa-o entregue a si mesmo e volta só para casa.
Há muita coisa que pode ser revista e melhorada, talvez mesmo sem maiores gastos. Podem começar por reduzir e agilizar o processo burocrático, desde credenciais, declarações e justificações pra tudo e mais alguma coisa. Seria uma forma de poupar muita angústia e ansiedade vividas pelos utentes quase até à hora de embarque. Basta pôr-se no lugar desta gente, mesmo que por breves instantes, para ajuizar o sofrimento que por ali vai. É preciso mais compreensão, mais e melhor atenção e, se calhar, um pouco mais de organização e agilidade na condução de alguns processos.
Há sempre forma de melhorar. É preciso vontade e disponibilidade para continuar a aprender e evoluir.
Está em construção um novo e grande Centro de Saúde. Herdará problemas já com barbas, porque a sua resolução não está no tamanho, nem na quantidade, mas na qualidade dos diversos intervenientes.
Ninguém me nomeou procuradora para ser a voz de quem quer que seja. Faço-o em nome próprio, porque vivi e senti tudo isto de muito perto. Sei que há muita gente a passar pelo mesmo. No entanto, na hora da verdade, vá-se lá saber porquê, quem devia falar remete-se ao silêncio, tantas vezes cúmplice.
É preciso intervir para melhorar. É este o meu propósito.
Madalena Castro