A Tirania do Populismo
O populismo é mesmo o que mais deteriora a democracia na nossa Região e impede a alternância democrática
Nunca se viu tanto populismo. Tornou-se mesmo uma força política à direita e à esquerda, que tomou conta de muitos partidos da oposição e domina, através de governos, muitos países do mundo. Curiosamente este populismo na Madeira não é novo. Tem sido mesmo o principal suporte do governo do PSD, a “ideologia” que tem mantido este regime ao longo de quase 50 anos. Ele cresceu há muito e reinventa-se para manter o poder.
O populismo é mesmo o que mais deteriora a democracia na nossa Região e impede a alternância democrática. O populismo alimenta-se do medo, da vitimização, do divisionismo, da dependência, do explorar de fragilidades, do manipular informação, do incutir o medo da mudança, de fomentar o nós contra eles, de construir inimigos externos, do oportunismo, da promoção da desconfiança das instituições, da instrumentalização do governo para fins partidários, do difamar pessoalmente adversários políticos e de impedir o contraditório democrático.
No entanto, o populismo não é exclusivo deste Governo Regional do PSD. Há partidos da oposição que, em vez de contribuírem para uma alternativa construtiva, optam por discursos inflamados, pela mentira fácil e pelo aproveitamento do descontentamento popular sem apresentar soluções. Em nome de uma pretensa moralidade e pureza, colocam-se à margem da responsabilidade de provocar uma mudança e de resolver problemas, ajudando a manter o status quo. Alimentam o populismo e não se apercebem que assim também alimentam o regime que dizem combater.
O populismo, por sua vez, caminha lado a lado com a intolerância e alimenta-se desta. Se repararem os populistas, dentro do governo ou na oposição, intitulam-se de defensores das pessoas “comuns”, do povo, mas apenas ampliam os seus descontentamentos. Incentivam o ódio contra os “outros”, os que pensam diferente, os que ousam questioná-los, ou simplesmente os que “ameaçam” o seu metro quadrado.
Confesso que nunca vi, nomeadamente nas redes sociais, tanta intolerância, agressividade e ódio. Uma notícia, uma afirmação, uma opinião que não segue a corrente, torna-se rapidamente alvo de insultos, ofensas e ataques pessoais. Não se debatem ideias, simplesmente atacam-se pessoas. Tudo isto, muitas vezes, sob a capa do anonimato ou perfis falsos. E quando há um rosto ou um nome, há uma perigosa percepção de impunidade. Assistimos a linchamentos quase diários, em campos de batalhas digitais, em que acusa-se, condena-se e destrói-se, sem apelo nem contraditório. E o mais preocupante é a normalização deste comportamento. Perdeu-se o filtro da decência. Não se pode considerar de liberdade aquilo que é um claro abuso, nem de frontalidade o que é crueldade.
Podemos dizer que é o que temos, mas não me conformo com estes tempos inquietantes, em que a intolerância avança e o respeito pelo outro, pelas suas escolhas e opiniões, desaparece sob o ruído crescente do populismo. Não me conformo que seja comum atacar em vez de dialogar, gritar em vez de ouvir, rotular em vez de tentar compreender. Não me conformo com o terreno fértil onde cresce a intolerância e o populismo.
Aceitar uma opinião divergente não significa concordar com ela, mas reconhecer que o outro tem direito à sua opinião. A pluralidade é a alma da democracia. Quando se tenta silenciar ou descredibilizar o outro apenas porque pensa diferente, enfraquece-se a democracia.
É urgente, pois, resgatar os valores da democracia: a liberdade de ser e de pensar, a dignidade de cada pessoa, a convivência entre diferentes, o respeito, a empatia, o diálogo. E rejeitar, com firmeza mas sem ódio, os discursos que promovem o medo, a vingança, o rancor e a divisão. Porque uma sociedade forte não é a que impõe que sejamos todos iguais, mas a que acolhe a diferença com respeito.