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Quem são os profissionais que lideram a Transformação Digital?

Assistindo ao mediatismo e ao poder de influência dos grandes líderes tecnológicos no ambiente geopolítico, reflito, entre os meus pares, sobre os produtos que desenvolvemos, a sua aplicabilidade e o processo de formação dos futuros profissionais.

Como futuro profissional no sector tecnológico, a maior parte da minha formação será mediada entre a Academia e o mercado laboral. Tendo em conta o valor pedagógico e afetivo que põem em prática, arrisco-me a considerar que acabam por desempenhar papeis parentais. Como descendente, e neste caso estudante, passo a explicar o porquê de muitas vezes nos sentirmos filhos de pais divorciados, uma vez que na maioria dos casos somos educados de uma maneira assíncrona e com algum conservadorismo.

Na região, como no país, a procura por cursos na área da informática tem crescido de forma notória. Localmente, desde 2020, o número de vagas para cursos em Engenharia Informática aumentou em 25% na UMa. A oferta formativa nos campos da Ciência de Dados e da Inteligência Artificial também aumentaram por todo o Ensino Superior nacional e, atualmente, apresentam das notas de candidatura mais elevadas.

Nós, estudantes de tecnologias, sofremos de uma forte determinação em adquirir o máximo de competências técnicas como escrita de código, por acreditarmos ser o mais valorizado no mercado de trabalho. Porém, a pouca interação com as empresas no contexto académico é notória, originando algumas ilusões por desconhecimento.

Infelizmente, na Academia, a importância das competências comportamentais e interpessoais (como a liderança, a comunicação, o trabalho em equipa e a resiliência) são amiúde subestimadas durante o curso, uma vez relegadas para disciplinas não obrigatórias, contribuindo para uma aprendizagem formal pouco alinhada com as reais necessidades do mercado de trabalho.

Dado o poder e o impacto que o setor tecnológico imprime, reivindico que se exija muito mais na Academia, do que a formação de especialistas em codificação. Considero urgente que qualquer curso relacionado com as Tecnologias da Informação, tenha uma abordagem perante o setor, que não seja exclusivamente técnica. O ecossistema digital precisa de uma intervenção tanto tecnológica como deontológica. A realidade é que a qualidade do nosso ciberespaço, põe em risco o nosso bem-estar, tal como a preservação dos nossos direitos, garantias e liberdades.

A pouca aplicabilidade e rentabilidade do conhecimento científico, é um dos maiores desafios do ensino superior e dos seus interessados. De igual modo, a falta de cultura empreendedora em contexto académico e não-académico, fazem com que as duas características se correlacionem e obstruam uma transferência de conhecimento fundamental para a sociedade.

Desta natureza, nasce um grande estigma com que as instituições de ensino superior lidam por parte das empresas, uma vez que são encaradas simplesmente como fornecedores de mão de obra barata. Influenciando profundamente a integração dos qualificados no mercado, e ao mesmo tempo contribuindo para a descredibilização do nosso Ensino Superior, não sendo visto como uma garantia da nossa soberania nacional.

Existem argumentos a favor e contra quer do contexto académico, quer do não-académico que justifiquem as suas interações ou falta delas, o certo é que a descoordenação destas instituições resultam de problemas estruturais crónicos que põem em causa o nosso desenvolvimento socioeconómico.

Por tudo isto, peço a palavra aos futuros e atuais engenheiros para que assistam a uma conversa entre dois estudantes universitários, um empregador e um diretor de curso na área de informática. Esta conversa foi promovida com o habitual confronto inter-geracional e inter-institucional, que faz parte da imagem de marca do programa Peço a Palavra, que a cada quinze dias aborda a atualidade no Ensino Superior na Ciência e na Tecnologia.