O regresso do mercantilismo
O mercantilismo predominou na Europa entre os séculos XVI e XVIII, tentando criar balanças comerciais positivas para o país ao apoiar exportações enquanto inibiam importações.
Implicava uma forte centralização e regulação da economia e era uma forma de intervencionismo económico que tentava barrar a importação de bens e produtos manufaturados para dinamizar o tecido económico doméstico e captar moeda externa pelas exportações.
Um ponto fundamental desta política económica era o de considerar que, numa transação económica, para uma das partes gerar ganhos, a outra parte teria que incorrer em perdas.
Na realidade, não só esta afirmação é falsa, como os regimes protecionistas com tarifas elevadas têm um efeito negativo na economia global, prejudicando intervenientes de forma generalizada.
As tarifas têm a tendência a serem aplicadas reciprocamente levando a guerras comerciais. A diminuição de importações leva a aumentos de preços, com a diminuição de exportações a causar quebras nas receitas dos exportadores. Pensar que deixamos de vender ao mercado externo para vender ao mercado doméstico é um erro, pois o produto exportado nunca é o mesmo que é importado.
Na prática, impor tarifas é impor um imposto às famílias e empresas do país, tendo como contrapartida a criação ou salvaguarda da indústria nacional. Num mundo globalizado tem implicações em qualquer continente, afetando cadeias de produção e logística e fluxos de capital.
A partir dos séculos XVIII e XIX, com o contributo de diversos economistas como Adam Smith e David Ricardo, as políticas económicas passaram a favorecer o livre comércio e uma redução da presença estatal para deixar a famosa “mão invisível” organizar o mercado.
A revolução industrial pressionou as instituições económicas com os industrialistas a conseguirem impor uma política de acesso a mercados globais, quer para aumentar a sua rede de fornecimento de matérias-primas, quer para gerar receita com vendas a novos mercados.
O tempo comprovou que foi uma medida de sucesso. O aumento do comércio global associado ao processo de industrialização levou a que os diversos países pudessem integrar maiores partes das suas economias e explorassem mais oportunidades económicas.
Portugal também teve, num passado recente, um regime protecionista com o Estado Novo. O fim deste regime contribui fortemente para a liberalização económica e social, mas o país já tinha iniciado um trajeto de relativa liberalização com a integração na EFTA, em 1960. Este processo culmina com o funcionamento enquanto mercado único europeu.
É precisamente por sabermos, há séculos, que estas políticas protecionistas têm um efeito líquido negativo, que não percebo quem, de qualquer um dos dois lados do oceano, apoia ou defende iniciar uma guerra comercial com a introdução tarifas alfandegárias. Infelizmente, caso a UE for alvo de tarifas, é óbvio que terá que retaliar.