A política como intervenção da comunidade
A política cultiva a reflexividade do homem sobre si e sobre a sociedade em que está inserido. As apostas políticas implicam ação que exige uma decisão. A mudança de cenários será sempre uma luta e será, também, a procura de mais informação para a compreensão dos desafios que temos de responder às necessidades de desenvolvimento comunitário, com base em processos de mudança, transformação e inovação social. E todos são convocados para esta tarefa. Pedem-nos para sermos ativamente políticos, mas no momento do debate os candidatos falam apenas entre si.
Cabe à dimensão política criar espaços de debate, através de projetos de intervenção local e regional, tenho a educação e formação como aliadas do desenvolvimento integral, assente numa cidadania ativa, em parceria com instituições com forte implantação na comunidade, designadamente, serviços públicos regionais, autarquias, etc., na concertação de estratégias de ação, numa perspetiva multidisciplinar. O debate faz parte de uma educação que será tanto mais e verdadeiramente democrática quanto mais possibilitar lançar e alimentar problemas e organizar princípios que ligam os saberes dando sentido ao mundo.
Penso que teremos de fazer uma reflexão sobre os poderes (trans)nacionais e locais, e deles exigir num diálogo que deve ser constante porque são os cidadãos que legitimam a própria estratégica política, e a possibilidade da democratização micro e local, que não se divorcia do seu enquadramento europeu.
O grande desafio do ato eleitoral está na capacidade de fazer perceber à dimensão regional a integração de cada um de nós na comunidade. Perceber que voz nos é dada. É, por um lado, fazer entender ao poder local e regional que exigimos o desenvolvimento integral da nossa comunidade e, por outro, auxiliar na diminuição das assimetrias locais, até dentro da nossa própria localidade.
Eu gostava que os candidatos mostrassem o seu pensamento sobre a coesão social, identificando que essa conceção ideal passa pela capacidade de potenciar os municípios, ao nível das infraestruturas rentáveis e sustentáveis, do emprego e da qualificação, da transformação e adaptação da educação à era digital, e da construção de uma identidade local marcada pela globalização. Será neste enquadramento concreto que se deverá tratar das questões da pobreza, da inclusão e da reinserção social.
Cada vez mais teremos o uso de modelos de intervenção comunitária alicerçados em suportes não tradicionais de pensamento, inclusive o político, nomeadamente através da criação de plataformas de conexão e de solidariedade (estou a me referir às potencialidades da inteligência artificial na governação), e de mapeamento de oportunidades de inclusão. O seu uso deverá sempre ser entendido como uma ferramenta vulnerável aos abusos de quem não usa o conhecimento para transformar significativamente a gestão e administração públicas.
Em breve teremos eleições e gostava de compreender o que esperam os candidatos oferecer aos eleitores em termos de participação cívica. Que instrumentos serão garantidos para maior transparência, eficácia e gestão da coisa pública? Porque não se entende que a política é intervenção da comunidade e não somente na comunidade? Porque não fazem os candidatos debates com os eleitores?