O Mundo
Estamos numa época em que se desenha, novamente, a constituição de “blocos”, anos após a Guerra Fria. No entanto, a situação actual é, porventura, mais complexa. Já não é o “Ocidente” contra “os outros”. Nem o “Ocidente” tem a definição que tinha (Europa, Estados Unidos da América e o Canadá), nem “os outros” são os mesmos.
Há, na actualidade, riscos e oportunidades diferentes das habituais. Já não é (só) o risco do nuclear. As “guerras”, actualmente, já não têm somente a definição habitual: países contra países, de armas na mão, pretendendo conquistar território ou defender-se de uma agressão. Embora, lembremo-nos da invasão da Rússia à Ucrânia, haja também uma componente “conquista de território” com tudo o que isso significa de riquezas minerais e posicionamento estratégico (acesso às vias marítimas, criação de “tampões” em relação a possíveis conflitos com vizinhos).
Se analisarmos bem as motivações, iremos encontrar a economia no centro dos conflitos. Quer na Ucrânia (e na Faixa de Gaza) quer…nas recentes atitudes e posicionamentos de Trump e dos EUA.
Acontece, porém que, ao contrário da Guerra Fria em que havia um certo equilíbrio dissuasor entre os “blocos”, na actualidade esse equilíbrio é precário.
Por um alado, temos a superpotência EUA governada por uma elite de magnatas das novas tecnologias, do imobiliário e dos meios de comunicação social com um testa-de-ferro aparentemente lunático, por outro lado, temos a Rússia expansionista de Putin, a China que, silenciosamente, se foi posicionando, mas que dificilmente alinhará seja com quem for, a India que tem estado silenciosa, Israel aliado preferencial de Trump, os países árabes (do petróleo) e…a União Europeia (EU). Nem vale a pena referir o Japão e a Coreia do Norte.
EU sem consistência política ou estratégica, contendo no seu seio dissidentes (“cavalos de Troia”), com opções nacionalistas, como a Áustria, a Itália e a Hungria de Viktor Orbán.
Uma EU, fraca economicamente, com os motores económicos Alemanha e França avariados. Sem capacidade de reacção atempada e firme. Desindustrializada. Dependente de terceiros (EUA) para a segurança e defesa. Atrasada no uso das novas tecnologias. Entretida com o “Green Deal” que não passa de mau marketing político, irrealista e impraticável.
Resumindo: os EUA não têm interlocutor válido, nem respeito pela EU. A EU não demonstra ter um raciocínio estratégico válido, nem uma política de defesa coerente. Mais tardiamente reactiva do que activa.
Já pouca gente se lembra dos acontecimentos dos anos 50 do século XX e do papel que teve o Vaticano, no equilíbrio de forças, com o aparecimento dos partidos da Democracia Cristã, reforçando a posição dos EUA de Regan, para impedir a expansão da União Soviética.
Quem sabe se o Vaticano poderá ter um papel, novamente, na mediação do diálogo com a Rússia e com Israel…
De qualquer modo, a EU não deve perder a capacidade de sustentação embora, provavelmente, deva repensar o modelo social e a política de defesa e segurança envidando esforços para reforçar a NATO e integrar outros países da Europa de Leste e do Norte.
Uma Europa mais contributiva, minimizando o estado actual do seu desenvolvimento a duas velocidades. Dando provas que limitem a desconfiança, das pessoas e dos países, na sua capacidade de intervir.
Que em Portugal se tente pensar o país, em vez de viver, quase exclusivamente, à sombra dos fundos europeus.
Que a “nova realidade” se baseie mais nos factos e menos em reacções emotivas e crenças.
Que os países (o mundo) consigam encontrar um novo equilíbrio de forças que será benéfico para todos.