Clima
Entre malas roubadas, juras de responsabilidade eterna, processos judiciais que não arrancam, pedidos de casamento em forma de coligações e mais choraminguices do Dr. Varandas, nem sei para onde me vire, confesso. E porque não queria repetir temas, este mês proponho-me gastar esta miséria de caracteres que me concedem a falar-vos sobre clima.
Sosseguem que não vou meter-me em sarilhadas de alterações climáticas e afins pois reconheço a minha ignorância relativamente a esse assunto. Nem no que nos trarão as supostas ditas alterações enquanto novos desafios, sejam eles eventuais intempéries mais fortes e frequentes, seja o aparecimento de casos de dengue em Fevereiro.
Falo de clima económico e do que é este contrassenso com a realidade política que vivemos. Dizia-me um Amigo: - isto do tempo bom no Turismo está para durar, desde que os gajos não façam asneiras.
Talvez eu seja um homem de pouca fé, mas não vejo como é que os gajos – eu incluído, bem entendido – hão-de evitar fazer asneiras. Nem sequer não fazendo nada, que é a melhor prevenção para o disparate que conheço!
Seja por erros passados, que são muitos e variados, seja por asneiras futuras, algumas delas já programadas, seja ainda por omissões, não consigo partilhar desta visão optimista em relação ao futuro turístico da Região.
Temos tantos desafios e tão pouca capacidade para sequer minorar as respectivas consequências que sinto até o dever de me preocupar e de chamar a atenção para isso, sob pena de ainda ver piorar este “laisser faire, laisser passer”, que o tempo bom que vivemos parece legitimar.
Uma Europa que vive com uma guerra que dura há já três anos. Que tem a sua maior economia em recessão. Que luta com dúvidas tremendas nas suas várias relações diplomáticas e gigantescos desafios geopolíticos. Que hoje está mais dividida, mais fragmentada e a experienciar as consequências do Brexit, do populismo e da crise da habitação.
Uma Região que deixou crescer a sua oferta de forma excessivamente rápida. Que importa mão-de-obra com outra cultura para ocupar posições que os locais hoje não querem para si. Que não cuida de perceber como pode fazer conviver o turista dito tradicional com o que nos chega através dos cruzeiros. Que vive, ainda e cada vez mais, afogada em impostos e contribuições sociais diversas. Que, por causa disso, faz depender investimentos, mesmo privados, de subsídios. Que cria taxas quando o que se pedia era exactamente a inversa e nem sequer percebe o que de tão errado está a fazer.
Por todo este vasto conjunto de questões, acho que este clima que nos favorece no imediato vai durar, mas bastante menos do que se perspectiva. E também acho que não estamos a trabalhar bem dois aspectos absolutamente essenciais para o longo prazo: - o produto e a estratégia.
Estou a ser, outra vez, um Velho do Restelo? Talvez, talvez…. Façam-me no mínimo um favor: - pensem menos em recordes e mais em estudar níveis de satisfação do cliente; só isto já não era nada mau e pode ser que me sossegue. Ou não…