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80 anos de Auschwitz: um lamento e um apelo à evolução humana

No passado dia 27 de janeiro, celebrámos os 80 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, um marco que nos convoca a refletir sobre a condição humana e as lições que, aparentemente, insistimos em ignorar. Auschwitz não foi apenas um lugar de sofrimento; tornou-se um símbolo da capacidade do ser humano para o mal extremo, através das mãos dos Nazis, tendo sido o seu líder eleito democraticamente após manipulação populista do povo – parece familiar, não é? A libertação deste campo deve ser um momento de memória e luto, mas também de alerta. A História, com a sua repetição de ciclos, parece desafiar a nossa capacidade de aprender com os erros do passado.

Nos dias que correm, somos confrontados/as com uma realidade preocupante, onde a xenofobia, o racismo e a discriminação continuam a manifestar-se de formas variadas, com o aumento da intolerância e a normalização do discurso de ódio um pouco por toda a parte. As redes sociais, que poderiam ser uma ferramenta de união e informação, muitas vezes servem como catalisadoras da propagação de ideologias extremistas, alicerçadas na desinformação, agora sem filtros. A tentação de fechar fronteiras, de erguer muros e de dividir os povos torna-se cada vez mais forte. Divide-se, muitas vezes, os imigrantes em classes sociais, discriminando aqueles que vieram à procura de melhores condições de vida, e idolatrando os que têm capital para adquirir as casas que nenhum local pode comprar. Existem seres humanos de 1ª e de 2ª? Às vezes esquecemo-nos de que somos um povo de emigrantes, e que também fomos à procura de outras condições lá fora, passando por dificuldades semelhantes…

A repetição dos ciclos de guerra, discriminação e genocídio não é um fenómeno isolado, mas sim uma consequência da falta de empatia e da desumanização dos outros seres humanos. O que aconteceu em Auschwitz e em tantos outros lugares é um alerta de que a indiferença e a apatia podem levar a atrocidades inimagináveis, como o que está a acontecer em Gaza. Quando “os fins justificam os meios” e ignora-se os danos colaterais que tantas vidas inocentes ceifam diariamente, permitimos que o ódio floresça, e, assim, vira o disco e toca o mesmo.

É necessário que olhemos para o futuro com uma nova perspetiva. Precisamos dar um passo evolutivo antes que a humanidade se autodestrua. A educação para a diversidade, a promoção da inclusão e o respeito pelas diferenças são fundamentais para a construção de sociedades mais equilibradas e pacíficas. O incentivo da solidariedade entre povos deve estar na base de tudo.

Num mundo globalizado, onde os desafios são comuns e as soluções devem ser coletivas, é vital que aprendamos a viver em harmonia. A erradicação da discriminação e do ódio deve ser uma prioridade, não apenas para honrarmos as vítimas do passado, mas também para garantirmos um futuro mais digno para as gerações vindouras. Deixemos de procurar culpados/as para os nossos erros e falhas estruturais. Abandonemos o vício de espezinhar quem não é como nós. Em vez de nos deixarmos conduzir pelo ódio, façamos a mudança pelo amor. Temos tantas riquezas culturais a partilhar, tanto a aprender uns com os outros, que podemos ser uma influência positiva mútua. O caminho mais fácil sempre foi o da crítica e do bota abaixo; façamos diferente desta vez e procuremos soluções integradas.

Auschwitz não deve ser apenas uma memória do que fomos capazes de fazer uns aos outros; deve ser um farol que nos guia na luta contra a indiferença. Que este 80.º aniversário da sua libertação nos inspire a agir, a unir vozes e a construir um mundo onde a paz e o respeito prevaleçam sobre o ódio e a divisão. O futuro da humanidade depende da nossa capacidade de evoluir. É hora de fazermos a diferença. Antes que seja tarde.