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Portugal e o Sul da Europa: crescimento conjuntural ou convergência real?

O Sul da Europa tem somado diversos destaques favoráveis nos últimos anos, marcando uma recuperação pós-Covid de sucesso relativo.

A The Economist premiou a economia portuguesa como tendo o melhor desempenho em 2025, destacando o crescimento da economia acima da inflação e da média europeia, o baixo desemprego e a performance da bolsa portuguesa.

Simultaneamente, a economia espanhola cresceu, em 2024, muito acima da média europeia, após um período pós-Covid conturbado. Este desempenho reforça um padrão observado no Sul da Europa, em particular na Península Ibérica.

À primeira vista, a Península Ibérica está de parabéns. Comparando com outros países europeus, em particular a Alemanha, o contraste torna-se evidente: crescimentos modestos, fortes quebras industriais e dificuldades com choques energéticos e disrupções tarifárias. Este contraste lembra a inversão observada na crise financeira do final da primeira década do século.

Estas diferenças são materiais, mas dão-nos a visão do copo meio cheio. O setor do turismo tem tido um desempenho fenomenal e Portugal e Espanha têm, obviamente, uma forte exposição a este setor.

Em ambos os casos, o forte investimento privado e a evolução favorável de indicadores como dormidas, taxas de ocupação e rendimento médio por quarto sustentam este dinamismo.

Contudo, uma leitura mais profunda destes resultados obriga a distinguir entre desempenho conjuntural e transformação estrutural. A produtividade do trabalho em Portugal é apenas 68% da produtividade europeia e tem permanecido estagnada desde o virar do século. Paralelamente, e consequentemente, a evolução dos salários reais ainda está longe da média europeia e a capacidade industrial continua modesta.

Face à ausência de reformas nacionais, apesar do clima geralmente favorável, é inevitável pensar que estamos a perder uma excelente oportunidade de posicionar o país num sentido que permita convergir em termos reais com as economias mais desenvolvidas do Ocidente.

Apesar dos progressos mencionados, subsistem problemas estruturais. A nossa economia fechou 2024 a 80,5% da média das economias europeias, uma forte melhoria face aos 74% de 2021. No entanto, é importante notar que este valor representa o nosso melhor resultado desde … 2010.

O sistema judicial continua ineficiente, as empresas demasiado pequenas e a educação tem muito a evoluir para convergir com os pares europeus. Apesar de começarmos a atrair diversas investimento em setores com maior intensidade tecnológica, é essencial continuar a crescer.

É de louvar a tentativa de reformar o código laboral – se bem que existe muito a dizer sobre a condução do processo, bem como sobre algumas das clausulas – mas sem um investimento e uma reforma complementar na educação, será difícil suster este crescimento.