Conhecimento e Inovação: O Caminho de Mokyr para o Futuro da Madeira
Joel Mokyr, laureado com o Prémio Nobel da Economia de 2025, destacou-se por demonstrar como o progresso tecnológico e a disseminação do conhecimento são motores fundamentais do crescimento económico sustentado. Para Mokyr, o desenvolvimento não nasce apenas de capital financeiro ou de recursos naturais — mas, sobretudo, da capacidade das sociedades de criar, partilhar e aplicar conhecimento. Esta visão oferece uma inspiração valiosa para regiões ultraperiféricas como a Madeira, que, apesar da sua dimensão geográfica limitada, possui um enorme potencial humano, científico e natural por explorar.
A Madeira tem, historicamente, enfrentado os desafios típicos de uma economia insular: distância dos grandes centros, dependência do turismo e escassez de massa crítica em setores tecnológicos. No entanto, essas limitações também podem ser o ponto de partida para uma estratégia de diferenciação. Tal como Mokyr defende, o conhecimento floresce onde há curiosidade, abertura e investimento em educação e inovação. A Madeira reúne hoje condições para transformar o seu modelo económico, apostando no conhecimento e na tecnologia.
O primeiro passo é fortalecer o ecossistema de investigação e educação. Universidades, centros de investigação e instituições de formação profissional podem tornar-se núcleos de co-criação e difusão do conhecimento, colaborando estreitamente com empresas e organismos públicos. Neste contexto, a ARDITI – Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação assume um papel central na coordenação e dinamização dessa rede, promovendo projetos que ligam a ciência ao desenvolvimento económico e social da região.
O objetivo do ensino superior não deve ser apenas formar diplomados, mas criadores de soluções — pessoas que transformam conhecimento em ação, ideias em projetos e projetos em oportunidades. A ligação entre ensino e o mercado de trabalho deve ser fluida, promovendo estágios, incubadoras e redes de empreendedorismo.
Além disso, a Madeira está a investir numa infraestrutura digital de excelência, capaz de atrair e fixar talento. Num mundo onde o trabalho remoto é cada vez mais comum, uma ilha com boa conectividade, qualidade de vida e ambiente seguro pode ser um polo de inovação distribuída, atraindo investigadores, programadores e empreendedores internacionais. O capital humano é hoje tão móvel quanto o capital financeiro — e a Madeira pode tornar-se num destino preferencial.
Outro eixo promissor é a economia azul. Situada no coração do Atlântico, a região dispõe de um vasto património marinho que pode ser explorado de forma sustentável. A biotecnologia marinha, a aquacultura e as energias renováveis oceânicas são áreas de crescimento global onde a Madeira pode afirmar-se. Aqui, a visão de Mokyr aplica-se de forma exemplar: o progresso advém não da extração intensiva de recursos, mas da criação de conhecimento sobre eles. A inovação é, assim, o verdadeiro recurso natural do século XXI.
A cooperação internacional é outro pilar essencial. Mokyr lembra-nos que as revoluções tecnológicas sempre nasceram de ecossistemas colaborativos, onde ideias circulam livremente. A Madeira pode — e deve — reforçar laços com universidades e centros de investigação europeus, participando em redes de inovação e programas de I&D. Essa integração permitirá que a região não seja apenas beneficiária, mas também produtora de conhecimento global.
Mas a inovação não se faz apenas em laboratórios. Ela nasce também de uma cultura aberta, curiosa e empreendedora. Incentivar a experimentação, aceitar o erro e celebrar o sucesso são atitudes que constroem o “ambiente Mokyr” de progresso. A política pública tem aqui um papel determinante, não apenas financiando projetos, mas inspirando confiança no futuro. Criar espaços de cocriação, hubs tecnológicos e programas de mentoria pode ajudar a transformar ideias em negócios, e negócios em emprego qualificado.
É claro que este caminho exige visão e persistência. Os resultados de políticas de inovação raramente são imediatos — costumam levar cinco a dez anos a consolidar-se. Mas os frutos são duradouros: uma economia diversificada, menos dependente do turismo e capaz de competir pela qualidade, não pelo preço. O investimento em ciência e tecnologia não é um custo; é o alicerce de uma prosperidade inteligente.
A Madeira tem, portanto, uma oportunidade única de alinhar-se com a visão de Joel Mokyr. Ao apostar na educação, na ciência e na inovação, a região pode transformar a sua insularidade em vantagem, tornando-se um laboratório vivo de políticas de desenvolvimento sustentável baseadas no conhecimento.
O futuro não pertence às regiões maiores, mas às mais criativas. E a Madeira, com a sua tradição de resiliência, talento e abertura ao mundo, tem tudo para provar que a inovação não conhece fronteiras — nem geográficas, nem humanas.
*(Com contributos de IA)