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Análise

“Limpar a Madeira”? Os erros que não podem ser cometidos

1.A recente polémica envolvendo o Chega na Madeira, desencadeada pela moção de censura submetida por ordem directa de André Ventura, levanta questões profundas sobre o comportamento dos partidos e o equilíbrio entre discurso político e responsável governação. Este episódio é um reflexo de como a política pode ser influenciada por agendas partidárias e, ao mesmo tempo, expõe as fragilidades de um sistema que tenta equilibrar pluralismo e estabilidade.

Em primeiro lugar, é importante contextualizar a situação. André Ventura, líder do Chega, decidiu intervir directamente na política madeirense, promovendo uma moção de censura que, embora sem qualquer perspectiva de ser aprovada, serviu como um mecanismo de pressão política e mediática. A argumentação oficial aponta para uma série de ‘pecados mortais’ executados pelo presidente do GR e respectivos secretários regionais. No caso de Albuquerque está há um ano para ser ouvido, cozido numa espécie de lume brando perante uma Justiça lenta e amorfa. O ‘timing’ e o contexto vieram provar que tudo não passou de uma estratégia de afirmação, mais uma, do partido a nível nacional, forçando a estrutura regional a seguir um caminho que não era o desejado pelos seus dirigentes e três dos seus quatro deputados. Pior, levou os outros partidos a reboque, tendo a moção sido aprovada e o governo caído. Ninguém conseguiu ver para além da cegueira partidária e do oportunismo político.

A notícia do DIÁRIO da passada segunda-feira é fatal para a credibilidade do projecto Chega na Região. Confirma, com detalhe cronológico, o que levou aquele partido a avançar com a censura no parlamento. Pura táctica política ao arrepio da autonomia do Chega-M, que na comissão política de 26 de Outubro explicou, pormenorizadamente, os motivos pelos quais estava contra a iniciativa que visava derrubar o Governo Regional. Miguel Castro e mais sete elementos daquele órgão foram unânimes, ao limite de recordar a presunção de inocência dos elementos do governo visados em processos judiciais. Como sabemos, André Ventura fez tábua rasa do entendimento dos dirigentes do seu partido na Região e impôs a sua vontade, com o resultado conhecido e mergulhando a Madeira em mais uma crise política, de consequências gravosas para famílias e empresas. O mesmo líder que foi a Washington vangloriar-se com a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde, do Acordo de Paris, com a deportação de imigrantes e com uma catrefada de iniciativas que são um autêntico retrocesso civilizacional e um perigo para a estabilidade mundial. É esse o modelo que ele quer replicar em Portugal.

No meio da ingerência gritante, que ilação retiraram os membros da comissão política do CH na Madeira? Nenhuma! Mantêm-se como se nada tivesse acontecido, redireccionam o discurso e remetem-se ao silêncio quando confrontados com o escândalo. São eles, alegam, que querem “limpar a Madeira”.

A moção de censura do Chega na Madeira, usada como ferramenta de marketing político, suscita muitas dúvidas sobre a seriedade e a responsabilidade da acção política no contexto actual e faz dos deputados eleitos à ALM autênticas marionetas do líder nacional. Avançaram contra as suas próprias convicções.

Este episódio deve servir como momento de reflexão, tanto para os eleitores quanto para os representantes eleitos, sobre o tipo de política que desejamos e em que partidos devem assentar os verdadeiros compromissos futuros. É essencial que se lembrem que a credibilidade e a confiança são construídas com base em propostas concretas, sérias e que vão ao encontro das necessidades da população que representam. O Chega tem feito tudo ao contrário do que apregoa e não contribui para nenhum compromisso que promova a estabilidade tão necessária.

2. Paulo Cafôfo vai sozinho às eleições internas do seu partido. Sem adversários, o presidente do PS vai ser reeleito com uma votação norte-coreana, serenando o frenesim interno em torno da sua liderança. Porém, apenas os resultados de 23 de Março garantirão a continuidade do seu projecto, com ou sem estados gerais, podendo garantir uma alternativa à esquerda em coligação com outra força partidária. Se não descolar, Cafôfo terá de fazer o que exige aos seus adversários.