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É isto...

Estamos a dois meses e um dia das próximas eleições regionais no espaço de dezoito meses. Para muitos poderia ser, este momento, o esplendor da Democracia, mas para uma Região que teve, até 2023, a estabilidade política como uma garantia (quase) absoluta, encaminhar-se para o terceiro ato eleitoral num tão curto espaço de tempo confesso que tenho escassas dúvidas quanto à mais que provável descrença popular nas instituições.

Não faltarão, na praça pública, uma considerável variedade de pavões carregados de vaidades provincianas que se autointitulam como os arautos da estabilidade, credibilidade e seriedade política. A política regional conheceu já todo o tipo de marrecos dotados da mais profunda ataraxia mental e que, por vicejarem numa bolha de duvidosa moralidade, desertam deste meio aqueles que, efetivamente, padecem das qualidades e competências para ocupar os cargos públicos que estão hoje mais desconsiderados do que nunca – vencimentos miseráveis, condições desprezíveis ao exercício de funções, escrutínio privado e pessoal desregrado, lapidação garantida, injúrias certas, ou seja, tudo isto sem dignidade, nem honradez, nem tributo.

A moção de censura apresentada pelo Chega Nacional – que deu entrada na ALRAM pelas mão do líder do Chega Madeira – colheu os votos do Partido Socialista, do Juntos Pelo Povo, da Iniciativa Liberal e do PAN. É caricato, senão penoso, de ver todos aqueles que se proclamam como acérrimos adversários de partidos extremistas tenham sido os mesmos que juntaram o seu voto a um documento, apresentado pelo “populista e demagogo Ventura”, que provocou a queda de um Governo Regional.

Recordo, a propósito, as palavras do Secretário-Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, no dia 7 de Novembro, na Revista Visão: “O PS, em nenhum lado, em nenhum sítio, deve viabilizar moções do Chega.” Pois bem, na Madeira, não só o Partido Socialista viabilizou, como votou favoravelmente um moção de censura apresentada pelo Chega.

Há várias perguntas que ficam no ar. Porque é que o Partido Socialista, convicto da sua vontade de provocar uma crise política, não apresentou a sua própria moção de censura? Porque é que Paulo Cafôfo decidiu juntar os votos dos 11 deputados socialistas aos votos dos 4 deputados da direita radical? Porque é que o Partido Socialista não teve a hombridade e a coragem de se negar a votar uma moção vinda daquele proponente – ainda para mais quando o próprio PS tinha todas as condições de apresentar uma outra moção de censura? Porque é que o Partido Socialista se aliou ao Chega? Dirão os socialistas, como já disse Cafôfo: “não tínhamos a garantia de que seria aprovada”. Esta resposta diz muito sobre o estado a que chegou o PS. Presumo que Paulo Cafôfo não apresente uma única ideia, um único projeto, uma única proposta, porque sabe que serão, à partida, chumbados. Em bom rigor, não apresenta nada, porque não tem substancialmente nada para oferecer aos madeirenses e porto-santenses. Então para que serve este Partido Socialista? A resposta é simples e telegráfica: para nada.

Ainda assim há quem tenha estado fora das luzes da ribalta, a esconder-se entre os pingos da chuva, e que tem mais responsabilidades, no estado político a que a Região parece estar condenada, do aquilo que faz parecer. Há quem tenha dito, depois de 24 de Janeiro do ano transato, que mantinha a confiança em Albuquerque, para logo depois exigir a sua demissão. Há quem tenha exigido ver a lista de sucessores a Albuquerque e exibir-se, durante meses a fio na praça pública, como a cara da razão e a seriedade em pessoa. Há quem tenha negado reiteradamente apoio a um governo do PSD depois da vitória interna de Albuquerque. Depois disso, há quem tenha rasgado cada letra que proferiu e viabilizado uma moção de confiança ao novo Governo de Albuquerque – após as eleições de 26 de Maio. Há quem tenha, seguidamente, votado favoravelmente uma moção de censura ao Governo, apesar deste último ter merecido a sua viabilização na moção de confiança. Há quem tenha votado numa candidata à Presidência da ALRAM pelo simples facto da candidata ser mulher – que triste serviço a uma luta anti-falocrática que já conheceu melhores Cíceros do que os raquíticos que medram no caciquismo de uma agenda segregadora de vontades que procura limitar e não libertar. Há quem tenha traído e desconsiderado todo o universo de animais que conheceu já o seu fim, porque decidiu apresentar um voto de pesar – que eu me vou abster de qualificar sob pena de ser levado ao banco dos réus – pela morte de uma criatura que entrou ilegalmente em território português, e se esqueceu de todos os outros que também morreram e não mereceram ingente consideração – discriminatório, no mínimo, diria eu.

Na expressão “há quem tenha”, leia-se: Partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN), ou se preferir – Mónica Freitas – ao que parece há uma simbiose perfeita que funde a personagem política com o Partido, o que faz lembrar a época promocional em que nos encontramos: “leve 2, pague 1”.

Diz-se que até 23 de Março haverá muito mato para dilacerar, seja ele de natureza moral, política, civilizacional, dignificante ou intelectual. Não faltarão, com certeza, apóstolos disponíveis para aderir, ou intensificar, a sua militância fanatizada e submeter-se a uma qualquer espécie de opróbrio para, com isso, garantir a adesão ou permanência a uma utópica seita de elites plumitivas que se tomam como os gerontes das calendas.

É esperar para ver...

Parecemos condenados a não ser mais do que isto...