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A vida é mais do que uma estatística

Quem segue atentamente a política neste País e nesta Região repara que há um nervoso miudinho à nossa volta. Tudo é feito e dito tendo em vista as promessas eleitorais, sobretudo dos partidos que fazem parte do poder. Agora aparecem as melhores estatísticas em relação a tudo, e quem não conhece a realidade mais profunda acha que vivemos num paraíso, que até atrai turistas para uma queda d’água, que vem de uma montanha, colocando em risco a sua própria vida.

Tenho lido que o desemprego na Madeira é dos que tem descido mais, mas quando se estuda mais aprofundadamente, vê-se que esses números não têm em conta a grande precariedade que ataca o mercado do trabalho e que os/as trabalhadores/as nunca foram tão pobres, a trabalhar muitas vezes mais de oito horas por dia. Cada vez há mais gente a trabalhar que fazem parte das estatísticas dos mais pobres e necessitados. E ainda se fica admirado/a por muitos casais jovens não quererem colocar crianças neste mundo.

O preço do trabalho está errado. Se queremos criar mais igualdade entre as diferentes camadas da sociedade aumentar os salários tem que ser uma prioridade. Não podemos continuar a permitir tanta disparidade salarial entre sectores e profissões. Não podemos continuar a permitir que num grupo empresarial um trabalhador ganhe o salário mínimo e um gestor ganhe 500 vezes mais. Isto é pornografia económica. Se este dinheiro fosse melhor distribuído todos ficariam a ganhar de forma mais justa, mesmo mantendo os salários dos gestores mais altos.

Diz-se em voz bem alta – até AJJ já o afirmou várias vezes como comentador –, que não se pode viver fazendo a política dos subsídios e colocando o estado ao serviço dos mesmos. Só que AJJ esquece-se que tudo começou nos seus governos. Agora é fácil colocar-se de fora, mas ainda existem memórias que não são curtas. Eu concordo com a sua atual opinião, desde que se criem mecanismos legais de ajuda a quem necessita, como direitos merecidos. Quem precisa poder recorrer, de cabeça erguida, desde que reúna as condições para ter acesso a esses mecanismos de ajuda, que vai desde os jovens aos mais velhos, até porque as necessidades não têm idade. Ninguém gosta de saber que há pessoas a receber subsídios que não merecem, e alguns até fazem alarido disso como que a gozar de quem trabalha.

Acabe-se de uma vez por todas com essas suspeitas. Haja firmeza para defender quem merece e penalizar quem usa e abusa dos subsídios públicos sem merecimento. Agora é preciso explicar que há direitos que são legais como o subsídio de desemprego ou mesmo o subsídio social. Não é admissível que se ouçam vozes contra quem usufrui desses subsídios, porque, se têm direito aos mesmos, foi porque descontaram dos seus salários. Não são vadios.

Algumas vezes tenho aqui defendido que a melhor maneira de acabar com os subsídios indesejáveis seria estabelecer um rendimento básico universal, para todos/as, de forma a aprenderem a administrar a sua vida sem qualquer outro subsídio.

Há já algumas experiências nesta matéria a decorrer em várias zonas do planeta. Seria muito interessante que o nosso País, ou a nossa Região, que se alvora tanto de ser inovadora em tanta coisa, o RBU fosse uma realidade. Aqui fica o desafio para o próximo ato eleitoral, de 24 de Setembro.