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O imparável avanço da toxicodependência

O que é preciso fazer? Apenas legalizar as drogas para desincentivar o tráfico e o consumo

É absolutamente desolador assistir à degradação da juventude pelo consumo de drogas que está a fazer dos jovens autênticos farrapos humanos. É preciso um murro no estômago dos governantes para acordarem. É uma utopia pensarem que a imposição de leis irá acabar com o consumo pois se já era um flagelo as drogas naturais, aparecem agora as drogas sintéticas que estão a criar uma sociedade de alienados mentais. E o pior é que a sociedade já a encara com naturalidade.

Já em Setembro de 2003, através das “Cartas do Leitor” deste Diário com o título “Droga esse flagelo” eu alertava que as drogas leves ou pesadas deveriam ser descriminalizadas. Claro que ninguém ligou à teoria de um anónimo cidadão mas o evoluir negativo da situação, passados vários anos, acabou por me dar razão. Aliás, já em outubro de 2007, 4 anos depois de eu ter publicado o meu artigo, uma notícia com o título POLÍCIA PEDE DROGA LIVRE inserto no matutino britânico “The Independent” corre os jornais e telejornais de todo o Mundo noticiando, na sua primeira página, que Richard Brunstrom, um dos principais responsáveis da polícia britânica, chefe das forças de segurança do norte de Gales, defendia que a única forma de vencer a batalha contra o tráfico de estupefacientes era a legalização de todas as drogas. Mais; num documento de 30 páginas enviado ao ministro do Interior do Reino Unido ele afirmava que “ as políticas sobre drogas, no futuro, devem ser pragmáticas e não moralistas, motivadas pela ética e não pelo dogmatismo.

Na altura eu explicava as razões que me levaram a discorrer sobre a assunção de medidas para o tornarem um mal menor: Se o preço das drogas leves ou pesadas descesse para o preço de um maço de tabaco ou de uma garrafa de vinho, os jovens não precisariam de roubar em casa e na rua e muitas vezes matar para conseguirem dinheiro para uma grama de estupefacientes a preços astronómicos devido à ilegalização. Acabaria ainda com a prostituição e degradação juvenil, desespero de pais e mães e acabaria sobretudo com o negócio dos barões da droga que certamente não se sentiriam motivados para comercializar um produto como outro qualquer com pouca margem de lucro e sujeitas às regras do mercado. Os fabulosos lucros gerados pela droga deixariam de financiar guerras diminuindo a alta criminalidade entre grupos organizados que envolve matanças entre marginais e as forças da ordem. Diminuiria a corrupção de políticos, magistrados e outros agentes da lei e diminuiria drasticamente a população prisional com altos custos para os Estados. Acabaria com a degradação dos correios da droga apanhados no controlo de fronteiras aeroportuárias que são sujeitos a vexames e à prisão pelas autoridades fronteiriças. Deixaria de financiar a compra de armamento que gera conflitos armados em todo o mundo. Acabaria, ainda, com as máfias que ameaçam e matam familiares dos envolvidos. Tudo isto seria evitado mas os altos interesses financeiros não deixam e os governos fecham os olhos a todos estes malefícios sociais em nome de uma pseudo-salvação da juventude. Não obstante os jovens de hoje continuam a consumir cada vez mais e até estão enlouquecendo ao consumir drogas sintéticas já que não têm dinheiro para as drogas naturais.

Eu defendia no meu artigo, (pode ser consultado) entre outras medidas, que, através de legislação, o imposto (que atualmente não existe apesar das margens de lucro fabulosas) gerado pelo comércio das drogas fosse única e exclusivamente aplicado na desintoxicação dos jovens que enveredassem por esse triste e fatal caminho. Convém não esquecer que para a juventude o fruto proibido é o mais apetecido. É preciso deixar de olhar o problema da toxicodependência como sendo apenas um problema da juventude mas sim pela sua envolvência em toda a sociedade. Um consumidor, enquanto tal, apenas faz mal a si próprio, o pior é quando envolve inocentes e destrói famílias. Apenas é necessário que os políticos tenham coragem para acabar com este pesadelo já que no submundo das drogas a vida humana nada vale.

Porque modéstia a mais é vaidade, ficaria com esse pecado se não dissesse que sinto uma ponta de orgulho mal contido por constatar que afinal tenho, do Mundo, uma visão futurista mais esclarecida e mais realista (ou será menos interesseira?) do que altos responsáveis a nível mundial na medida que este flagelo tem vindo a degradar-se, de ano para ano, e as medidas de repressão não têm surtido o efeito desejado tal como eu havia previsto.

O que é preciso fazer? Apenas legalizar as drogas para desincentivar o tráfico e o consumo.