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Ziguezagues na Economia Portuguesa

Em 2022, o PIB em Portugal cresceu 6,70%, valor muito acima da média da União Europeia. Trata-se de um feito digno de nota, mesmo considerando que na globalidade, a UE recuperou da pandemia muito antes que Portugal, e que a nossa recuperação foi muito lenta após uma queda muito mais profunda. A falta de diversificação da nossa economia foi apontada como a principal culpada para a pronunciada queda, embora agora seja apresentada como justificante do extraordinário desempenho da nossa pequena economia.

Para fazermos uma análise honesta, devemos comparar o crescimento económico durante o período pré-pandémico e as previsões para 2023. Em 2019, Portugal registava, com este mesmo governo, um crescimento médio trimestral de 0,6%. Com incrementos assim tão tímidos, teríamos um crescimento anual muito inferior às atuais previsões, que até já foram revistas em baixa. É também interessante verificar que não foram, nem o investimento público, nem o consumo interno, os catalisadores deste crescimento, como seria de esperar de um governo PS.

O efeito atrasado dos aumentos recentes nas taxas de juro e a desaceleração do impulso na atividade industrial ainda não tiveram reflexo na economia. Podemos esperar ainda um impacto negativo no PIB em 2023, e somar alguns ventos contrários, como uma inflação persistente, o stress contínuo sobre o setor bancário, a retração do financiamento e a falta de clareza das políticas económicas e sociais.

A inflação continua a ser a grande preocupação. A pandemia do COVID-19 causou entropia nas cadeias de distribuição, dificultando a produção e distribuição de mercadorias. Enquanto isso, os governos e bancos centrais começaram a injetar muito dinheiro na economia num esforço para apoiar empresas e famílias durante a pandemia. Logo depois veio a invasão da Rússia à Ucrânia, e o resultado foram aumentos nunca antes vistos no cabaz alimentar. É bem verdade que a inflação é um problema quase global, mas os fatores que a têm impulsionado são muito heterogéneos. Enquanto nos Estados Unidos a inflação está a ser impulsionada principalmente pelo sector dos serviços e pelo imobiliário, na Europa a situação é bem mais complexa, onde os aumentos mais significativos se verificam nos preços dos alimentos e da energia, sendo que o lento reajuste salarial acaba por contribuir para o escalar dos problemas sociais.

Apesar dos sinais que nos indicam que já atingimos o pico nos preços, a inflação tende a não recuar no cabaz de bens essenciais, o que continuará a engordar o eleitorado do partido do Governo de Portugal, e dessa forma atenuar os efeitos das suas ingerências.