Análise

Taxar, dignificar e o futuro do Marítimo

Um amigo que muito estimava dizia-me sempre que o português pensa mais com o bolso do que com a cabeça. Confesso que a tirada me deixava interrogativo, desconfiado e com alguma ira. O tempo veio dar-lhe razão. Vem isto a propósito do Dia Mundial do Ambiente, que se comemorou na passada terça-feira e que serviu de mote para uma conferência sobre a acção climática, que se realizou com o apoio do DIÁRIO. Nada mais oportuno num dia em que a depressão ‘Óscar’ se abateu sobre a Região, em pleno mês de Junho, mostrando com toda a força os efeitos nefastos das alterações climáticas.

Feito o diagnóstico – sobejamente conhecido do grande público – sobre a educação para a sustentabilidade ambiental, a gestão de resíduos e o tratamento e reutilização das águas, gerou-se um debate. Da plateia um participante pediu a palavra para colocar o dedo na ferida, quando se falava da necessidade da separação do lixo doméstico, uma vez que ainda se constatam resistências infundadas ao que deveria ser um hábito inquestionável, a bem do ambiente. Na verdade, a consciência ambiental por todos intuída não tem chegado para gerar uma mudança de comportamento em muitos resistentes.

A alternativa vai passar pela criação de uma taxa que penalize os que teimam em fazer tábua rasa da emergência ambiental. Veja-se o que aconteceu com os sacos de plásticos. Após a obrigatoriedade do seu pagamento, a utilização diminuiu drasticamente. “O português pensa mais com o bolso do que com a cabeça”.

A ideia de lançar novos ‘impostos’ não é agradável para quem já paga uma catrefada deles, mas há bens maiores que justificam a opção por meios menos simpáticos.

O tempo urge e se não quisermos conduzir o planeta ao desastre completo temos de mudar de paradigma, com pequenos gestos que não custam nada. A separação dos resíduos é uma delas, bem como poupar água (é inadmissível que se continuem a varrer quintais com uma mangueira), evitar o desperdício alimentar, reutilizar e reparar roupas e sapatos, evitar o desperdício alimentar e dizer não ao plástico e às embalagens de utilização única.

Será preciso taxar para educar? Fica a interrogação na certeza de que não dispomos de tempo para estancarmos a inevitabilidade de uma desgraça.

2. A Madeira tem sido pioneira nas políticas de longevidade e isso é um excelente indicador. É, sem dúvida, um dos nossos maiores desafios futuros. Integrar população cada vez mais idosa, mas que seja mais activa e saudável. Conferir dignidade aos mais velhos é honrar os compromissos de um dos pilares da sociedade.

Se é fundamental que o tema faça parte da agenda política, havendo na Madeira uma Direcção Regional para as Políticas Públicas Integradas e Longevidade, convém que os projectos passem do papel à realidade. O governo que sair das próximas eleições tem de executar, uma vez que o diagnóstico está feito, destinando verbas significativas para este sector. Os mais velhos têm de ser uma mais-valia e polos de referência. Não um fardo social.

A longevidade tem de ser entendida como um potencial factor de desenvolvimento económico, de promoção da sustentabilidade e da coesão social. Pelo contrário, a maioria continua a achar que o envelhecimento é um “grande problema”, como referiu e bem ao DIÁRIO Ana João Sepúlveda, socióloga e especialista em Envelhecimento e Economia da Longevidade.

3 O Marítimo dá esta noite o tudo por tudo para se manter na I Liga. Fá-lo em desespero de causa, após uma época irregular e humilhante que de positivo apenas teve a paciência e a mobilização dos adeptos, fiéis à equipa do Almirante Reis. Para quem deixou, há já alguns anos, de vibrar com o mundo do futebol, enredado em polémicas estéreis, casos de polícia e dramas judiciais, reconheço a importância estratégica, a todos os níveis, de ter um clube entre os ‘maiores’ do futebol nacional. Há 40 anos que assim é. Os clubes são, no entanto, empresas profissionais, que se regem pela boa ou má gestão dos seus dirigentes. Sobre este capítulo estaremos conversados quando se fala no Marítimo, que recebe uma significativa ajuda pública, isto é, dinheiro de todos nós. Mantendo-se ou descendo de divisão, que seja feita uma reflexão sobre o desempenho do clube, isso cabe aos sócios, mas também ao modelo de financiamento público dos clubes de futebol da Região. E isso cabe a todos nós.