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Análise

O PAN sabe mesmo ao que vai?

O XIV Governo Regional tomou posse com pompa, circunstância e um beija-mão infindável. Embalado pelo ambiente festivo, Miguel Albuquerque afirmou que a coligação ‘Mais Madeira’ teve uma vitória “concludente” nas últimas eleições. Não teve! A necessidade de ir buscar um terceiro parceiro é a prova de que o eleitorado não quis entregar, de bandeja como fizera até 2019, o poder à maioria que governou até há pouco tempo. E é aqui que reside o sucesso deste executivo de muitas caras conhecidas, mas de pouca renovação. Falhou, contudo, em não abrir a porta aos jovens e à sociedade civil, entregando os principais lugares da administração pública aos de sempre e a mais alguns ‘boys’ do CDS.

Albuquerque diz que “encontrou a solução” para governar com estabilidade durante os próximos quatro anos. No entanto essa premissa não depende da sua vontade exclusiva, convém sublinhar. Depende especialmente da vontade da deputada eleita pelo PAN. Mónica Freitas será a chave do equilíbrio e a garantia de que esta legislatura irá até ao fim. Dificilmente a Iniciativa Liberal aceitaria entrar em campo a meio do jogo e mais dificilmente Albuquerque aceitaria as exigências de baixar impostos, preconizada por Nuno Morna. Será por isso em Mónica Freitas que todos os holofotes estarão colocados. Sim, PSD/CDS já não governam sozinhos. Habituem-se! Contudo, da deputada estreante e do seu partido não se conhece um pensamento estruturante sobre os dramas sociais, os desafios determinantes que se colocam, as prioridades e o futuro da Região. As intervenções da deputada têm sido de um vazio assustador, reveladoras de impreparação, desconhecimento dos dossiers e de pouca ambição. Oxalá estejamos enganados. Para estar à altura da missão da sua vida, terá de ser clara e revelar ao que vai e que linhas vermelhas não está disposta a ultrapassar no apoio parlamentar, que sustenta o Governo Regional. O que temos ouvido são palavras vagas e descomprometidas sobre, essencialmente, igualdade de género e publicidade às iniciativas da entrega de garrafões de água à população do Porto Moniz e de rações para animais, para além das 3.046 árvores que se comprometeu plantar. É meritório e até ‘fofinho’, mas é manifestamente insuficiente e, até, risível quando pela frente surgem problemas de índole social que inquietam a população e que têm de ser resolvidos.

Contrariamente ao que os dirigentes dos partidos do poder invocam, o acordo de incidência parlamentar com o PAN tem de ser o mais transparente possível. Os madeirenses não deram a maioria absoluta a ninguém. Obrigaram a este entendimento e isso tem de ser assimilado por esta nova maioria imposta. O que defende o PAN para a economia, fiscalidade, saúde, emprego, pobreza, que como revelam os últimos dados veiculados pela Direcção Regional de Estatística colocam a Madeira à frente de todas as regiões do País? Não se trata de uma questão de pormenor nem de circunstância, mas determinante para a vida colectiva. As pessoas querem meditas concretas, que aliviem o custo elevado de vida, os juros estratosféricos, a inflação desmedida, melhores salários e menos impostos. Mais de 60 mil madeirenses vivem com menos de 551 euros por mês e 15,2% dos trabalhadores estão abaixo do limiar de pobreza. A estabilidade e abertura ao diálogo apregoadas por Miguel Albuquerque no acto de posse passam, também, pela resolução destas questões. Os próximos quatro anos não devem ser apenas regidos pelo programa da coligação PSD-CDS. Têm 23 deputados. Precisam do voto de Mónica Freitas. E ela tem de mostrar ao eleitorado que está à altura da tarefa e que é merecedora da confiança depositada, não só na esfera da defesa das bandeiras do seu partido. Pagará caro se não o fizer. A precipitação de eleições não agrada a nenhum partido, no imediato. Mas daqui a dois anos, a conversa será outra.