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Criar (o) futuro (XXIV)

Tudo muda num instante.

Na voracidade e velocidade do tempo, o que é o assunto na ordem do dia facilmente é destronado por acontecimentos supervenientes.

Neste mês de outubro, o tema do meu artigo começou por ser só sobre as eleições legislativas regionais e o novo governo.

Contudo, os incêndios que deixaram um rasto de destruição, na Calheta, Porto Moniz e Câmara de Lobos, obrigam a que comece por enaltecer o papel dos bombeiros e da população que, mais uma vez, foram exemplo de prontidão e solidariedade. O lema dos bombeiros “Vida por Vida” foi, mais uma vez, verdade, ao protegerem e ajudarem as pessoas, sem se registarem vítimas mortais.

Coragem e bravura foram apanágio dos valentes bombeiros e cidadãos que estiveram no terreno, impedindo que a tragédia, danos e prejuízos fossem ainda maiores. A todos, o meu aplauso!

No passado dia 17, tomou posse o XIV Governo Regional da Madeira. Tive a honra de fazer parte da 1.ª metade do mandato anterior, vivido no meio de uma pandemia, em que foi premente implementar medidas tendentes a minimizar as consequências económicas e sociais causadas ou exacerbadas pelos efeitos da COVID-19 na vida da sociedade e da economia. Penso que estive(mos) à altura.

Agora, é um tempo novo.

Para além dos desafios macroeconómicos e geopolíticos, nomeadamente, no panorama europeu, a guerra entre o Hamas e Israel, e a continuação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, em que as principais vítimas são sempre os civis inocentes e indefesos, não podemos deixar de prestar atenção ao nível mais micro, o da nossa realidade regional.

Com o início de um novo ciclo na Região, é tempo de grandes expetativas e um campo fértil de desafios e oportunidades. Houve necessidade de acordos e cedências, face à vontade expressa nas urnas. E que abre uma janela para novas realidades, para o desbravar de novos caminhos.

Queremos todos acreditar que as soluções e os modelos de ação serão os mais apropriados, pragmáticos e eficazes para preparar um futuro com equidade e justiça social. Para tal, há que agregar em vez de dividir. Privilegiar proximidades, construir pontes e aprofundar o diálogo.

Deseja-se um futuro em que se efetive o desenvolvimento sustentável e o progresso económico e social desejados. Para tal, entre muitos outros dossiers relevantes, volto a insistir na exigência de uma atenção redobrada à chamada classe média. Só com medidas nacionais e regionais de apoio e valorização da classe média é que poderemos diminuir os riscos, que já se perfilam no horizonte, de desaparecimento ou aglutinação dessa classe, que sente, de forma mais incisiva, os efeitos da inflação na diminuição do seu poder de compra.

No puzzle das crescentes vulnerabilidades sociais têm sido subalternizados, de forma recorrente, os constrangimentos exponenciais vividos pela classe média, nomeadamente ao nível da valorização dos rendimentos, carga fiscal e custos com a habitação.

Para resolução dessas problemáticas, bem como para combate das fragilidades sentidas pelas restantes franjas da população, precisa-se de abordagens multidisciplinares, projetos estruturantes e estratégias delineadas a médio e longo prazo que garantam a coesão e o desenvolvimento económico e social.

Não se aceitam políticas efeito placebo, medidas só para chamariz mediático, sendo imprescindível assumir que o nosso futuro comum depende de ter como foco o desenvolvimento humano com forte pendor inclusivo. Caso contrário, o futuro, em vez de se revelar soalheiro, será um destino sombrio.

E não podemos cair no erro de acreditar que o futuro será semelhante ao passado. O mundo está em constante mutação, cada vez mais acelerada e, muitas vezes, não expetável. Também não nos é possível voltar atrás. Neste frenesim que domina o mundo, surgem constantemente fenómenos que alteram crenças e modos de viver e trabalhar, de que podemos elencar a repercussão da inteligência artificial no mercado de trabalho e a crise climática, bem como as crescentes tensões e conflitos entre nações. Trata-se do novo (a)normal.

O “caderno de encargos” que se avizinha para assegurar um futuro pacífico e próspero, com reflexos positivos no bem-estar dos cidadãos e na robustez da vida económica, não é fácil, exige soluções inclusivas e criativas, mas “mar calmo nunca fez bom marinheiro”.

É o momento certo para sacudir a letargia e o comodismo. Há todo um caminho novo que exige ação e a concretização de medidas propulsoras de desenvolvimento sustentado, fazendo uso de 3 e’s: energia, entusiasmo e esperança.

Para tal, todos contam e continua a ser verdade que ninguém pode ficar para trás. Com respeito pelos mais velhos, pela sua experiência e sabedoria, mas com um olhar muito atento e galvanizador para os nossos jovens. Como disse o ex-presidente norte-americano Franklin Roosevelt: “Nem sempre podemos construir o futuro para a nossa juventude, mas podemos construir a nossa juventude para o futuro”.