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Dias de claustrofobia

Sente-se vergonha alheia que alguns mirem (do monóculo anacrónico) a terra plana, a conspiração viral

Na China e nos Estados Unidos, na Itália e no Irão, no Japão e no Brasil, na Espanha e na Coreia do Sul, em Portugal e na África do Sul, na Alemanha e na Nigéria, assim como agora nos demais países, inclusive Angola, Cabo Verde e Moçambique, não há razões para estarmos descansados com esta pandemia. Ela tem vindo a campear solta, a contagiar e a matar pessoas, a aprisioná-las em casa. Tampouco há razões para colocações simplistas, porque isto, como diz o vulgo brasileiro, se ficar o bicho come e se correr o bicho pega. Trocando em miúdos, no escapar ao bicho, outro tsunami viral pode estar a caminho e grande vendável económico pode carregar o pilão, deixando o balaio mortalmente assustado.

Nos novos países onde a infecção já entrou na ordem do dia, a luta vai ser ingente, a Sociedade terá de fazer a sua parte e o Estado terá de impor regras e disciplinas estritas, pois não bastará, como não bastou em lugar algum, apelar ao “senhor cidadão” pelo civismo e responsabilidade. Quando o perigo se instala, o medo trava o bom senso e solta o bicho em instinto de sobrevivência, e isto é dos livros. Antes que cada um ponha a funcionar o egoísmo de colocar a “sua senhoria” a salvo e isto descambe em caos, no desenfreio do “que se lixe o mundo”, o Estado tem de ser mais enfático, não significando abusar, na gestão da crise. E a cooperação internacional era mister a estas horas e, se vier, de onde venha, importa a grandeza de agradecer e a humildade de louvar.

Repete-se para algum pessoal em polvorosa: o coronavírus nem é uma maldição divina, nem é uma conspiração maquiavélica de certos países. Num tempo em que precisamos estar (i) mais despertos e vigilantes, preocupados - de um lado a organizar o confinamento, o teste e a resposta hospitalar, e (ii), doutro lado, a ser solidários e a pensar rendimento básico universal de emergência, como um dos incentivos à economia real -, não há espaço para esoterismos de carochinha ou, nesta aldeota, para se arvorar em Jaime Bunda – o Agente Secreto.

Sente-se vergonha alheia que alguns mirem (do monóculo anacrónico) a terra plana, a conspiração viral, e o mundo sempre a preto e branco, assim como os demais pelo bote ébrio desta ou daquela ideologia. Assim, tanto a ação dos médicos e enfermeiros chineses, cubanos, russos e de outros voluntários expedicionários, quanto as doações laboratoriais e hospitalares, aos países mais afetados pelo COVID-19, é algo que merece aplauso de todos quantos olham para as grandes catástrofes com efetiva solidariedade e humanidade. Outrossim, as cavernas de Ali-Babá (de todos pontos cardeais e seus respetivos regimes) terão, em tempo certo, novos “leaks” que as esventre. Agora, repete-se que salvar vidas...é a missão mais nobre.

E o terror a perorar, com cancelamentos/adiamentos de eventos e iniciativas, num deus-nos-acuda nunca visto, há reflexões que merecem prosseguir, ainda que em modo “fique em casa”. Das inumeráveis, evidencio o encontro internacional “A economia de Francisco”, que aconteceria entre 26 a 28 de março, em Assis, cidade italiana de São Francisco. “Não há razão para haver tanta miséria. Precisamos construir novos caminhos”, declarou Francisco ao mobilizar para evento. Vamos pensar nisso?

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