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Estar na Ilha!

Esta é uma altura em que todas as ilhas são necessárias, olhando para um mesmo horizonte,

Nesta altura já está tudo dito sobre a crise que nos atormenta.

Vou antes falar sobre a nossa Ilha, sobre as nossas ilhas.

Sou natural desta Ilha, aqui nasci, cresci, aqui formei a minha juventude e aqui criei a minha ilha.

Confesso que me custou sair da Ilha pela primeira vez e, confesso também, que me custou sair da ilha, mas já lá vamos.

Nós somos, enquanto pessoas, ilhas rodeadas por um mar de outras pessoas, por esse mar que nos vai molhando, que nos vai moldando, umas vezes acariciando as praias que vamos criando quando crescemos, outras vezes batendo forte, com a espuma do tempo a deixar os seus sinais nas rochas que fomos aprendendo a posicionar, para defesa das fúrias das tempestades que nos assolam com o vento da vida. Criamos as nossas pequenas ilhas, cada um a sua, interligada com todas as ilhas que nos circundam e interligando-as com viagens que surgem com as emoções se vão sentindo.

Saí da Ilha quando fui para Lisboa para estudar na Universidade e levei comigo a minha ilha, da qual nunca saí e, confesso, pouco fiz para sair. O meu objectivo era regressar à Ilha assim que completasse a minha formação universitária. Errei, reconheço, por não me ter esforçado mais para sair da ilha, daquele canto que temos cá dentro, no cantinho da emoção, mesmo que estivesse fora da Ilha.

A Ilha era o meu chamariz, a minha atracção e, ser Ilhéu é também um pouco isso: levar connosco a nossa ilha, para que a saída da Ilha não custe tanto.

Sair da ilha foi muito mais difícil do que sair da Ilha. Na realidade, só saí da ilha quando voltei à Ilha. Mas saí!

Foi quando voltei para iniciar a minha actividade profissional que comecei a sair da minha ilha. Sair da Ilha para formações, tanto no Continente como no estrangeiro abriram finalmente horizontes que estavam escondidos, tapados pela visão que tinha de uma ilha que não poderia existir fora da Ilha. Mas existia, existe.

Com o evoluir da idade e do conhecimento, fui saindo cada vez mais da minha ilha, abrindo-a ao mundo, tal como a Ilha faz ao receber tantas visitas de tantas partes do mundo. Só abrindo, alargando horizontes para tudo o que está para além do horizonte é que podemos ter a noção da nossa pequenez enquanto ilha, enquanto Ilha.

Nós ilhéus, temos essa limitação de espaço, mas temos um vasto horizonte a chamar pela aventura do conhecimento. Há que aproveitar esse chamamento e sair, ver, estudar, conhecer outros mundos, outras realidades, necessariamente diferentes, necessariamente iguais. Diferentes da Ilha donde saímos, tantas vezes igual na ilha que somos. Desta dualidade tem forçosamente de nascer um novo entendimento do mundo que nos rodeia e tentar trazer para a Ilha tudo o que fomos aprendendo e guardando dentro dos horizontes da nossa ilha.

Alargar horizontes, compreender outras vivências, transportá-las para a Ilha e aplicá-las por cá, como tantas vezes se ouve dizer: “vi lá fora isto e aquilo, era assim que devíamos fazer”. Frase feita por quem saindo da Ilha olha sem ver, ouve sem escutar, sem aprender e apreender o que, de facto, se faz “lá fora”.

Nesta hora de aflição, temos de sair das nossas ilhazinhas, temos de aceitar que há outras ilhas por esse mundo fora que têm a experiência da navegação, aceitar a oferta de conhecimento que nos fazem, para que aumentando o conhecimento das nossas ilhas pessoais, possamos ajudar, todos, a salvar a nossa Ilha.

Esta é uma altura em que todas as ilhas são necessárias, olhando para um mesmo horizonte, lutando por um mesmo objectivo:

Salvar a nossa Ilha e desta forma salvar as nossas ilhas.

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