Artigos

Saúde Mental na Pandemia

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define “Saúde” como um estado de bem-estar físico, mental e social completo, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. No entanto, a saúde mental permanece subestimada nos projetos de melhoria das condições globais de saúde, apesar do grande impacto económico que as patologias deste foro imprimem nas economias mundiais (cerca de um trilião de dólares por ano). Por essa razão, a OMS criou a Iniciativa Especial para a Saúde Mental (2019-2023) que visa garantir o acesso universal e gratuito a todos os indivíduos que padecem destas doenças.

Não obstante, o Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado a 10 de outubro desde 1992, adquire especial relevância no contexto mundial atual. A pandemia por COVID-19 trouxe novos desafios ao diagnóstico, tratamento e seguimento deste tipo de doenças, diversas vezes negligenciadas pela sociedade.

A OMS considera provável um aumento a longo prazo do número e gravidade dos problemas de saúde mental. O medo da infeção, a incerteza do futuro, o isolamento dos amigos e familiares, o desemprego, a provável crise económica, podem contribuir para um aumento de algumas patologias nomeadamente a perturbação da ansiedade, perturbação depressiva, aumento de consumos de álcool, tabaco e outras substâncias.

Num estudo efectuado nos EUA e Canadá, publicado recentemente na revista Anxiety and Depression Associaton of America (ADAA), os autores sugerem que as marcas do COVID-19 são mais substanciais na área da saúde mental do que na saúde física. Dos adultos participantes, o número de pessoas que foram afectadas emocionalmente, excedeu o número de pessoas que foram infectadas pelo vírus (apenas 2% reportou que tinham sido diagnosticados com COVID-19, 38% experienciaram algum grau de distress (stress excessivo) e 16% reportaram altos níveis de stress e provavelmente a necessitar de ajuda de serviços de saúde mental). Apesar das limitações deste estudo, este demonstra que as reacções de stress relacionadas com o COVID-19 são mais complexas do que o simples medo da infeção e por isso, mais do que nunca, devemos cultivar a nossa saúde mental e estar atentos à saúde mental de todos os que nos rodeiam.

Neste momento, se está a experienciar um aumento de stress significativo, não está certamente sozinho. Segundo a OMS, o distress provoca dificuldades tais como: dificuldades na concentração; zanga fácil; inquietude; dificuldades no sono; sentimentos de tristeza ou culpa, preocupação; sensação de fadiga, choro, mudanças no apetite (pouco ou muita fome). Outros sintomas também podem ser: pensamentos intrusivos acerca de acontecimentos do passado ou, pensamentos sobre cenários ameaçadores do nosso futuro. Estes consideram-se pensamentos e sentimentos normativos quando experienciamos distress. No entanto, podem causar-nos problemas se nos deixarmos ficar presos por eles, como um peixe num anzol. Isto é, quando nos paralisam ou impedem-nos de praticar certas acções essenciais para o nosso dia-a-dia, ou quando nos fazem acreditar em coisas que vão contra os nossos valores, como por exemplo, desistir daquilo em que acreditamos e julgar-nos fracos ou maus.

Num momento de pico de stress, tente lembrar-se: é temporário, desconecte-se de informação negativa, distinga possibilidade de probabilidade, respire lenta e profundamente e seja compreensivo consigo próprio. Caso experiencie estes sintomas e sente que interferem na sua vida, deve procurar a ajuda de um profissional de saúde mental.

*Ana Andrade - Psicóloga  Clínica e da Saúde

Sara Rocha Jesus – Médica Interna de Medicina Geral e Familiar - SESARAM

Fechar Menu