Quebra nos preços das casas na Madeira deveu-se a menor procura pelas de luxo?
Não faltam, nos portais imobiliários, casas de luxo à venda na Madeira e ainda no mercado, à espera de um comprador disposto a dar milhões de euros. Por uma casa, por exemplo, com 450 metros quadrados de área bruta, basicamente um T4 com "piscina infinita com bar de apoio, sala de cinema e garagem para cinco carros nas Neves", em São Gonçalo, o preço pode ficar por 5,5 milhões de euros. Bastará essa venda para mudar completamente a percepção do custo por metro quadrado, não só da zona, da freguesia e inclusive do concelho do Funchal e de toda a Região.
Agora imagine essa venda multiplicada por mais algumas dezenas, - não precisam ser mais do que duas ou três dezenas de imóveis na mesma ordem de valor - dará qualquer coisa como 110 milhões de euros (20 casas por 5,5 milhões de euros). Com esse valor, daria para vender 200 casas por 550.000 euros, o que já é um valor significativo nos tempos que correm, uma vez que significa que daria para comprar uma casa de 150 metros quadrados ao preço de 3.666,66/m2.
Esse valor é, já de si, bem acima da média na Região neste último trimestre (2.518 euros/m2), inclusive no Funchal (2.928 euros/m2), sendo de destacar que os compradores com residência em Portugal (quase todos residentes e famílias madeirenses), pagaram, em média, 2.476 euros/m2, quando no 4.º trimestre de 2024 tinha pago (2.857 euros/m2) e no Funchal os residentes tinham pago 2.917 euros/m2, mas três meses antes a média na capital tinha sido de 3.501 euros/m2. Nota-se a quebra abrupta de 381 euros/m2 na média regional e de menos 584 euros/m2 no Funchal.
Analisando então os preços médios pagos pelos cidadãos estrangeiros no 1.º trimestre de 2025 (3.193 euros/m2) e no 4.º trimestre de 2024 (3.606 euros/m2) para o total da Região, enquanto no Funchal esses valores ascendiam a 4.375 euros/m2 e 5.230 euros/m2, respectivamente, ficamos com reduções de 413 euros/m2 e de 855 euros/m2 no espaço de um trimestre.
Isto, quando nesse 4.º trimestre de 2024, tinha ocorrido aumentos significativos face ao 3.º trimestre, muito por culpa das compras de estrangeiros no Funchal. No espaço de três meses, os preços pagos pelos estrangeiros nesse período aumentaram 3.473 euros/m2 para os já referidos 5.230 euros/m2. Ou seja, aumento de 1.757 euros/m2 de um trimestre ao outro. Foi nestes meses de Outubro, Novembro e Dezembro do ano passado que se deu o efeito disruptivo que, agora entre Janeiro e Março de 2025 foi ligeiramente amenizado, mas, ainda assim, manteve os preços bem acima do que vinha ocorrendo.
Preço das casas cai 21% no Funchal
Conheça os destaques desta quinta-feira em mais uma edição do DIÁRIO
A verdade é que muitos leitores do DIÁRIO não compreendem estes factos e muitos, quiçá por não terem ido além do título, optaram por culpar os vendedores, os promotores, a comunicação social, inclusive os estrangeiros (não aqueles que podem comprar este tipo de imóveis de luxo, mas sim os que vêm à procura de uma vida melhor), como pode ver nos vários exemplos entre os 70 comentários na nossa página de Facebook à manchete da última quinta-feira, 17 de Julho.
Quando, na verdade, esta disparidade de valores ocorrida entre um trimestre e o outro, com uma diminuição do preço mediano de 765 euros/m2, deve-se a uma diminuição significativa da procura por estrangeiros, daqueles que podem pagar preços altos, num mercado que, efectivamente, não é o do bolso da generalidade dos madeirenses e, realmente, apenas acaba por influenciar as médias mensais.
Madeira continua a ser a terceira região com maior preço das casas
No 1.º trimestre de 2025, só atrás de Lisboa e Algarve
Isto porque no dia anterior e sobre os mesmos dados, noticiamos que a Madeira continuava a ser a terceira região com os preços mais altos, inclusive tendo esta aumentado os preços em quase 11% face ao mesmo período do ano passado. Como explicamos logo na edição em papel do dia seguinte, 17 de Julho.
Juntando todos estes factos, fica claro que durante alguns meses (4.º trimestre de 2024), os preços das casas na Região aumentaram 51% face ao mesmo período de 2023. Nos três meses seguintes (1.º trimestre de 2025) houve um aumento de quase 11% . Ou seja, comparando os aumentos dos dois últimos trimestres, comparados com os dois trimestres homólogos, assinala-se uma quebra de 40 pontos percentuais no crescimento, uma espécie de 'travão' no crescimento acentuado verificado.