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Crónicas

O vírus da falta de noção

Quem passa por cima de regras ou coloca outros em situações difíceis ou delicadas não tem a mínima noção do que é viver em sociedade

A vida é muito feita de comportamentos, do que transparecemos e da imagem que acabamos por construir mediante o que fazemos (ou não) e de como o fazemos. Seja no âmbito mais pessoal ou na esfera do trabalho mas é sobretudo no domínio público que se desenrola a definição do que a sociedade pensa de nós. Há quem tenha o gosto mais apurado para umas coisas, outros para outras, quem se saiba vestir melhor perante os padrões de moda instituídos e os que se estão nas tintas para isso. Depois existem os que são mais discretos, que gostam de passar despercebidos e chamar pouco a atenção e os excêntricos ou que têm uma maior necessidade de sentir o ego mais afagado. Talvez por isso se diga que o ultimo grau da sofisticação é a simplicidade. Quem se sabe resguardar e dar pouco nas vistas acaba por passar nos pingos da chuva, longe dos mirones e dos críticos sociais e mais afastados das invejas ou do gozo. Quem usa a simplicidade e a descrição é naturalmente mais atento ao que o rodeia e também mais imune à critica leve, leviana e fácil.

Quem se defende normalmente está menos exposto ao erro, à partitura das redes sociais e ao falatório geral. Mas isso não significa ter que ser apagado, monótono ou fraco. É uma forma de estar tal qual aqueles que gostam de impressionar, que não têm receio dos comentários e que o fazem em bom. Depois há os que não têm a mínima noção do que fazem. Que não entendem que podem estar a magoar ou a incomodar os outros ou que simplesmente não querem saber. Os que no dia a dia se olham ao espelho e saem de forma espampanante mas com coisas que não lembram ao diabo, os que interferem no espaço dos que os rodeiam e sorriem como se nada fosse ou que ofendem e humilham como se tudo pudesse ser uma brincadeira. A falta de noção atinge uma franja da nossa sociedade, muitas vezes irrita-nos solenemente, outras só nos dá para rir ou para chorar. Sentimos vergonha alheia de quem faz figuras tristes. Como diz um amigo meu, triste não é fazer figura de palhaço, é fazer figura de palhaço sem saber de que se está a fazer. Isso vê-se nas roupas, nas unhas, no cabelo ou na gravata mas também nas atitudes, nas posturas, nas expressões faciais ou seja nos comportamentos que temos que nos deixam numa pilha de nervos ou apenas e só estupefactos.

Tudo o que seja com a própria pessoa a mim afeta-me pouco, o vestir, o usar certas coisas ou atitudes que só lhes dizem respeito, faz-me pouca confusão. Diferente é quando isso implica com o que é dos outros, o que me diz respeito ou afeta a minha liberdade. Por exemplo aqueles “manos” que levam colunas de música para a praia e a colocam em altos berros como se todos tivessem que ouvir a porcaria que eles ouvem. Ainda para mais normalmente quem o faz tem um gosto no mínimo duvidoso. É de uma verdadeira lata alguém achar-se no direito de ir incomodar quem está à volta com música altíssima sem sequer perguntar se não se importam. Também me faz confusão quem diz o que quer, muitas vezes metendo em xeque amigos e conhecidos, usando do sarcasmo ou da piada para introduzir temas que são incómodos ou sensíveis para alguém. Quem passa por cima de regras ou coloca outros em situações difíceis ou delicadas não tem a mínima noção do que é viver em sociedade e isso por vezes é pior que um vírus. É a estupidez humana no seu esplendor.

Frases Soltas:

Dom Américo Aguiar bispo da diocese de Setúbal e ex deputado municipal do PS, virou estrela Pop. Depois da incursão pelo Conclave onde foi visto nos dias anteriores a tirar selfies com outros Cardeais vem agora afirmar que “cobrança de portagens na 25 de Abril ameaça coesão territorial e social”. O comentador e entertainer que nos tempos livres assume as vestes litúrgicas às vezes também é atacado pelo vírus da falta de noção.

O Boavista, histórico clube do Porto corre sérios riscos de desaparecer. Com dívidas superiores a 155 milhões de euros e depois da descida de divisão, não se conseguiu inscrever na Segunda Liga. Continuamos a permitir que quem domina os clubes faça e desfaça a seu Bel prazer. Com isso irão sofrer fornecedores, muitos jovens que praticam desporto e fervorosos adeptos.