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Burra de Alho

Na última semana da Assembleia Legislativa da Madeira, esperava-se uma discussão acesa sobre o Orçamento Regional. O que não se esperava era um Secretário Regional a perder as estribeiras, os modos e a compostura, dirigindo-se a deputadas como “gaja” e, pasme-se, “burra do car***”. Uma linguagem tão apropriada quanto um palhaço num funeral.

Num espaço que devia ser de debate democrático, assistimos a uma performance digna de taberna de esquina. Será que o Secretário se esqueceu de que está numa Assembleia onde o respeito deveria imperar? Ou será que confunde poder com impunidade? Mais do que ofender quem lá está por mérito e voto, ofende a democracia, a autonomia e a inteligência de quem assiste.

O mesmo justifica-se dizendo que utilizou palavras do dicionário. Alegar que são apenas palavras do dicionário é esquecer que também lá estão ‘respeito’, ‘decoro’ e ‘civilidade’, mas dessas, pelos vistos, não sabe o significado. Quem reage com insulto à crítica parlamentar, como reagirá à crítica pública? E mais importante, como é que alguém que tutela áreas tão sensíveis como o turismo, a cultura e o ambiente acha que o problema está nas questões colocadas?

Mas se quisermos falar de burrice, então falemos. Burrice é querer privatizar o acesso aos nossos percursos pedestres, transformando a natureza num parque temático. Burrice é ignorar os sinais de alarme do turismo massificado, onde o lucro imediato tapa os olhos à sustentabilidade. Burrice é faltar ao respeito a quem foi eleito por sufrágio direto, quando o próprio só está onde está por nomeação. E, convenhamos, nomeações não conferem imunidade moral, nem autorização para perder a cabeça quando o contraditório aperta. Enquanto o Secretário se entretém com ofensas, a Região continua à espera de respostas. Como se gere um turismo cada vez mais descontrolado? Como se protege o nosso património natural para além de o colocar atrás de uma cancela com bilhete? Como se garante que a cultura e o ambiente não fiquem reféns de interesses económicos?

Dir-me-ão que foi um “momento infeliz”, um “excesso de linguagem”. O problema não é só o que se diz, é o que se revela quando se diz. Quem trata com desprezo as representantes eleitas do povo, como tratará quem o nomeou? Pois... Há quem diga que o alho é bom para a pressão, mas quando se junta com arrogância, o resultado é mesmo uma “burra de alho”, aquela mistura que, em vez de temperar, estraga qualquer prato.

Na política, o que se exige não é perfeição. É decoro, respeito e sentido de serviço público. Quando se perde isso, perde-se a razão. E quando se parte para o insulto, é porque já não há argumento.

Respeito ensina-se e exige-se!