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Alice no país dos disparates

Quem me vem lendo, ao longo dos anos, sabe que tenho uma péssima opinião da administração regional. Não tenho dúvidas que terá quadros fantásticos, mas parecem-me enquadrados pela mediocridade, e mais valorizados pela capacidade de dizer e fazer sim e porque sim do que pela sua capacidade de pensar e decidir por si próprios, dentro de parâmetros definidos, que é o que se espera de administradores capazes, com linhas mestras delineadas pelas autoridades escolhidos pelos eleitores.

Se todo o panorama é genericamente mau, é especialmente negro nas áreas de actuação dos lobbies regionais, leia-se construção civil, obras públicas e transportes marítimos... com todos eles a serem beneficiados por decisões favoráveis em todas as áreas.

As decisões na área do turismo têm pecado pela escolha de modelos errados (continuamos a olhar para Torremolinos e as Canárias, em vez da Córsega e Mykonos).

Todas as decisões parecem apontar, como critério, para a insustentabilidade, pelo menos em termos sociais e ambientais, e a junção do ambiente ao turismo parece-me uma má decisão, o que aliás já se confirmou com a decisão da entrega das levadas a empresas privadas.

Uma má decisão, porque as prioridades de uma empresa nunca serão as da população, ou do acautelar do bem comum, e os da sustentabilidade, mas tão somente o lucro.

A entrega a privados é também o admitir que a administração do turismo não tem nem as convicções nem estômago para tomar as decisões que salvaguardariam o bem comum contra alguns lobbies, mas acima de tudo contra o modelo de turismo de massas que vem sendo promovido, e a que os madeirenses têm paulatinamente reagido.

Há áreas do bem comum que não se podem entregar a privados. Porque fazê-lo levaria a desastres de gestão da coisa pública, e em uma, mas potencialmente várias, da componentes da sustentabilidade que qualquer bom, ou razoável, gestor quererá ver satisfeitas.

É preciso tomar pulso ao que vem acontecendo. Aos abusos que têm lugar todos os dias. Ao excesso de rent a car. Ao excesso de oferta de alojamento. Ao excesso de carga das levadas, veredas e miradouros desta terra. Ao excesso de navios de cruzeiro. À excessiva descaracterização e desqualificação da mão de obra. Ao desmantelar dos instrumentos que permitem manter os standards e (continuar a) marcar a diferença.

Porque a Alice somos nós todos, e olhamos incrédulos para as decisões tresloucadas que se tomam em nosso nome.