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Borrell avisa que cortar água em Gaza é incompatível com Direito internacional

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Foto Simon Wohlfahrt/AFP

O chefe da diplomacia europeia alertou hoje que ações como cortar o fornecimento de água em Gaza "não são compatíveis" com o Direito internacional e defendeu uma resposta europeia baseada em firmeza, humanidade e coerência.

"Vamos repetir mais uma vez: Israel tem o direito a defender-se. Sempre o teve e quem quer que fosse que fosse atacado desta forma tão brutal teria direito a defender-se", referiu o alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, num debate na sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

"Todos estamos unidos em dizer que o direito à autodefesa tem os seus limites, os limites que marcam o direito internacional, sobretudo o direito internacional humanitário", sustentou.

As guerras, sublinhou, "também têm as suas regras", previstas no Direito internacional.

"Cortar o fornecimento de água, e não só, não é compatível com o Direito da guerra. Já não há água em Gaza, há mais de 3.000 mortos e um quarto deles são crianças. Não podemos responsabilizar todos os palestinianos pelas ações criminosas do Hamas", sublinhou.

Borrell disse "condenar os terríveis ataques terroristas" do grupo islamita Hamas em Israel, no dia 07 de outubro, que fez mais de 1.000 mortos, mas também "condenar as vítimas civis em Gaza, que já passaram os 3.000 mortos".

"Condenar uma tragédia não nos deve impedir de condenar outra. Mostrar a nossa piedade pelos mortos vítimas dos ataques terroristas não nos pode impedir de demonstrar também o nosso lamento pelos outros mortos", sublinhou.

A União Europeia faz uma "condenação clara do Hamas", que "não pode ser identificado com o povo palestiniano".

"É uma organização terrorista e demonstrou-o com os seus atos. Boicotou qualquer tentativa de instaurar a paz. O Hamas quer que Israel desapareça, não quer a paz, quer a destruição. Mas as suas ações estão a tornar impossível que os palestinianos cheguem uma paz justa e eles também são vítimas do Hamas", considerou.

A União Europeia, sustentou, deve estar unida contra o Hamas e no pedido para que seja respeitado o direito internacional humanitário "por parte de todos" e para que "acabem os ataques contra civis, estejam onde estiverem".

A ação dos Estados-membros deve ser "compatível com uma ação comum da União", bem como as políticas comunitárias, defendeu.

A decisão de triplicar a assistência humanitária a Gaza "demonstra a coerência política", mas esta ajuda "tem de lá chegar e não consegue".

Por fim, Borrell pediu "mais energia política numa atitude ativa para resolver o conflito" e relançar a solução dos dois Estados.

"Receio que se não terminarmos o ciclo de violência, isto vai repetir-se daqui a uns anos. Há que abordar o confito entre Israel e a Palestina. A paz entre os Estados árabes e Israel, que é uma boa notícia, não acarreta automaticamente a paz entre Israel e a Palestina", disse, antes de considerar que a "comunidade internacional tem de reconhecer que não fez tudo para pôr em prática os acordos de Oslo, que já têm 30 anos".

"Proclamamos todos os dias a solução dos dois Estados, mas o que é que fazemos para que seja uma realidade? Desde Oslo até agora, o número de colonos nos territórios ocupados multiplicou-se por três e o espaço do possível Estado palestiniano foi diminuindo", disse.

Para Borrell, "não há outra solução" além da dos dois Estados e é preciso "mobilizar energia política para a construir".

O alto representante advertiu ainda que "este conflito está a passar para um conflito entre o mundo cristão e o mundo muçulmano", algo que disse ser muito preocupante.

"A segurança nas ruas depende disso e os equilíbrios geopolíticos mundiais também. Devemos fazer um esforço gigantesco para evitar que esta deriva chegue à fronteira libanesa", avisou.