Dr.ª Henriqueta Gabriela de Sousa, em foto publicada no Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses, de Luiz Peter Clode
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Palmira e Henriqueta de Sousa - Rua dos Netos

As duas primeiras mulheres a concluir o curso do Liceu do Funchal, foram também as duas únicas formadas em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, entre os 250 médicos dali saíram ao longo dos 73 anos de existência da instituição

A 24 de novembro de 1879 nascia, na residência dos pais, à rua das Mercês, Palmira da Conceição, primeira filha do escrivão de direito da Comarca do Funchal, António Alexandrino de Sousa, e de sua mulher, Henriqueta Herminia da Costa. Seria a irmã mais velha de um total de nove irmãos que viriam a nascer deste casal. Pouco mais de um ano depois, a 16 de fevereiro de 1881, vem ao mundo Henriqueta Gabriela, numa casa da rua dos Ferreiros, para onde a jovem família havia entretanto se mudado. O padrinho de batismo de Henriqueta é o insigne médico madeirense João Augusto Teixeira, professor e futuro diretor da Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, que certamente viria a ter um papel determinante nos destinos destas duas irmãs.

Henriqueta destaca-se já em criança, sendo madrinha, com apenas 8 anos, do primo Gastão, batizado em 1890. Em 1899, após terminar com distinção o curso do Liceu do Funchal, matricula-se na Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, concluindo o curso a 26 de junho de 1902, aprovada em todos os exames nemine discrepante, ou seja, sem qualquer discordância dos professores que a avaliaram. Palmira fez um percurso semelhante, concluindo o Liceu em 1898, e formando-se em Medicina na mesma data da irmã. As duas irmãs foram não só as primeiras mulheres a terminar o curso do Liceu, como as únicas mulheres que se formaram pela Escola Médico-Cirurgica ao longo dos seus 73 anos de existência, dum total de cerca de 250 médicos.

Após a graduação, passaram ambas a exercer clínica, com especialização em saúde infantil e feminina, em consultórios instalados na sua residência, no n.º 77 da Rua dos Netos, no casarão torreado que remata aquela rua do lado nascente, deitando para a Ponte Nova, onde desde 1946 se encontra instalada a empresa de bordados Madeira Sun.

Henriqueta exerceu medicina na Associação de Socorros Mútuos Femininos “15 de Setembro de 1901”, instalada um pouco adiante na mesma rua, desde a sua fundação até setembro de 1942, tendo ainda colaborado com os mesmos serviços, entre 1908 e 1919, no lactário da Assistência às Crianças Fracas, fundada por D. Eugénia de Canavial e, entre 1911 e 1942, no Recolhimento do Bom Jesus da Ribeira. Destaca-se nos serviços prestados na assistência aos doentes durante a Primeira Grande Guerra, sendo agraciada com a medalha de louvor da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha. A partir de 1919 começa a exercer funções públicas, como subinspetora, e depois inspetora de Saúde no Distrito do Funchal. Durante a década de 1930 trabalhou na área da medicina do trabalho, primeiro na Direção-Geral da Indústria, e depois na Junta Geral do Distrito do Funchal, como visitadora sanitária da Inspeção da Saúde. Exerceu, ainda, o cargo de vice-presidente da Associação Católica Internacional para Obras de Protecção de Raparigas, fundada em 1897, na Suíça, e em Portugal desde 1914, com sede no Porto. Henriqueta de Sousa morreu no Funchal a 26 de março de 1951, sendo sepultada no Cemitério das Angústias, em São Martinho. 

Palmira de Sousa, por seu lado, parece ter tido um percurso mais discreto, limitado ao exercício da clínica no consultório que partilhava com a irmã, vindo a falecer precocemente a 12 de dezembro de 1928.

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