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Empresas chinesas estreiam-se como doadoras globais face à pandemia

Foto EPA/SERGEY DOLZHENK
Foto EPA/SERGEY DOLZHENK

A elite empresarial da China estreou-se como doadora humanitária internacional, à medida que a pandemia da covid-19 se alastrou por todo o mundo, adotando práticas dos bilionários norte-americanos, europeus e japoneses.

Jack Ma, o homem mais rico da China, e outros magnatas chineses, doaram centenas de milhões de dólares em equipamento médico, alimentos e dinheiro, a dezenas de países.

Ma, fundador do gigante do comércio eletrónico Alibaba Group e membro do Partido Comunista Chinês, ajudou a pagar por 1.000 ventiladores entregues aos hospitais de Nova Iorque, em abril. A fundação de Ma ofereceu ainda ventiladores, máscaras e outro equipamento a países em África, América Latina, Ásia e Europa, incluindo Portugal.

O serviço de vídeo TikTok prometeu doar 250 milhões de dólares (221 milhões de euros) a profissionais de saúde e ajudar outras pessoas afetadas pelo surto. A Tencent, que detém a aplicação WeChat, prometeu 100 milhões de dólares (88 milhões de euros), e enviou máscaras e equipamentos de proteção para 15 países.

Em Portugal, a estatal chinesa China Three Gorges (CTG), acionista da EDP, doou quase quatro milhões de euros em equipamento médico, incluindo 50 ventiladores.

Outras empresas, como a fabricante de computadores Lenovo e a montadora de veículos elétrica BYD Auto, forneceram também máscaras e outro equipamento a vários países. A Haier Smart Home, fabricante global de eletrodomésticos, disse que a sua fábrica no Paquistão está a distribuir alimentos para as comunidades vizinhas.

Analistas apontam que estas doações dão aos doadores a chance de reparar a imagem da China e adquirir capital político junto do Governo chinês, que enfrenta críticas pela opacidade e alegada demora na resposta inicial ao vírus, que surgiu no centro da China, em dezembro passado.

“Nenhum país pode lidar com esta crise sozinho”, disse Ma, durante um seminário ‘online’, organizado pela sua fundação para médicos africanos falarem com especialistas chineses sobre como combater o surto.

Trata-se da primeira vaga internacional de doações chinesas, notou Edward Cunningham, que pesquisa filantropia chinesa na Escola de Governação Kennedy do Centro Ash da Universidade dd Harvard.

A filantropia na China cresceu à medida que a economia do país se desenvolveu, mas concentrou-se sobretudo nas necessidades domésticas ou em universidades estrangeiras com ligações familiares aos doadores, observou Cunningham, citado pela agência Associated Press.

Empresas norte-americanas, incluindo a Walmart ou a Amazon, forneceram equipamento médico e dinheiro a África, Índia e América Latina. O CEO da rede social Twitter, Jack Dorsey, prometeu doar mil milhões de dólares (885 mil milhões de euros), e anunciou doações a África, Médio Oriente, Ásia e Estados Unidos. A Cisco doou à Organização Mundial da Saúde e às Nações Unidas.

África, onde especialistas temem que os sistemas de saúde com recursos limitados enfrentem um aumento rápido no número de casos, é uma prioridade diplomática de longa data para Pequim. As empresas chinesas veem o continente como uma fonte de recursos e os seus 1,3 mil milhões de habitantes como um mercado importante.

As doações são também vistas como uma ferramenta de propaganda, apontam analistas, numa altura em que Pequim está envolvida em conflitos com os Estados Unidos, Europa e países vizinhos, em torno do comércio, tecnologia, alegações de espionagem e reivindicações territoriais.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, escreveu em março que havia uma “luta por influência” lançada pela China, através das “políticas de generosidade”.

“Há um impacto sentimental entre as populações que podem ver na China um país que valoriza a sua saúde”, disse Mame Goor Ngom, analista político e editor da Africa Check, uma organização no Senegal que verifica reivindicações públicas.

Os governos africanos, incluindo Senegal, Ruanda ou Etiópia, agradeceram publicamente as doações chinesas, que são quase sempre utilizadas como ferramenta de propaganda por Pequim.

Imagens de aviões a transportar doações de equipamento médico, ou especialistas chineses a desembarcarem em países estrangeiros para ajudarem no combate à epidemia, são frequentemente registadas pelos órgãos oficiais de Pequim, que nos últimos anos concluíram acordos para partilha de conteúdo com centenas de meios de comunicação por todo o mundo.

As doações chinesas no Gana “ficaram aquém do que os Estados Unidos distribuíram, mas receberam mais publicidade”, disse Manasseh Awuni Azure, Jornalista do Gana.

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