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À nossa Ângela Costa

Neste ano de tantos lutos, que nos tem levado e desafiado a tanto, a nossa querida professora de Artes Visuais e artista Ângela Costa, deixou-nos como sábia anciã com a irreverência, a originalidade e coragem que foi a sua Vida!

Eu costumava dizer que quando fosse mais velha, queria ser como duas mulheres que conheço/conheci. Elas sabem disso. Uma delas era a Ângela.

Ativista de muitas causas, lembro-me de a ver muito envolvida (junto com a antiga associação Archais) contra a destruição de muitas das estruturas e indícios industriais/arqueológicos de antiga fábrica de açucar do Torreão ou mais conhecida pelo engenho do Hinton, surgido em 1856, onde só ficou a chaminé, no atual jardim de Santa Luzia.

Quem quisesse encontrar a Ângela, era só aparecer nas diversas iniciativas culturais que oferece a nossa Ilha. No teatro, no cinema, nas conferências, nas exposições, nos retiros, nos encontros com a Natureza, em eventos eruditos ou populares ela lá estava (e não precisava de companhia). Tenho uma imagem gravada, de vê-la debaixo do aeroporto (no cais de Santa-cruz), num concerto jovial de música Pop Rock. Ela era a mais velha daquele público. E outras coisas semelhantes ela fazia, que para muitos, não seria para a sua idade, como lançar-se de parapente ou pedir expontaneamente boleia de barco a um conhecido, para ir até França ver uma exposição!

A Ângela era essa inspiração, não se importava com comentários alheios, em agradar a todos, com convenções, com o “verniz” social que tanto tem caracterizado a nossa sociedade de hipocresias.

Alternativa e autêntica ela vestia-se sempre de forma informal e colorida. Durante muitos anos a reconheciamos pelos seus dois “rabos de cavalo” laterais que usava.

As suas maravilhosas gravuras, a sua obra plástica singela, orgânica, sensorial, irónica, poética e coloquial era como deve ser a arte, a continuidade do corpo de quem a cria.

Sempre fez falta as pessoas invulgares, de coluna vertical, incisivas como ela. Fazem cada vez mais falta numa sociedade ainda tão imatura! A procura do sentido, da verdade, da beleza, do risco não está desenvolvido em todos nós e nela, porque foi cultivado, já era expontâneo e puro.

Muito, muito obrigada Ângela pelo tanto que semeaste e se não for pedir muito, olha ainda por nós e envia-nos a tua sagacidade.

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