>

Os donos da terra e do mar

Ao coro insular dos subservientes e dos oportunistas de sempre, juntam-se agora aqueles que se julgam donos do mar. Depois da prepotência dos “heróis” da PSP e da GNR, aplaudidos e venerados pelos serviçais do sistema, a Autoridade Marítima através de um aforismo ridículo (UMA IDA À PRAIA NÃO VALE UMA VIDA...), vem agora, cinicamente e com argumentos que roçam a manipulação mais grosseira, secundar de forma obediente e submissa as ordens de conhecidos tiranetes e respectivos testas de ferro locais que à custa de uma pandemia pensam que estão a ter o seu momento de glória. Falar da vigilância das praias é uma anedota de mau gosto para não lhe chamar outra coisa. Numa ilha que tem a maioria das praias vigiadas durante apenas três meses ao longo do ano, essa autoridade marítima mostra-se agora muito preocupada com a segurança dos cidadãos. Então por que não fecham essas praias e outras durante os nove meses que sobram?

Que pantominice! Eles que fingem ignorar, por exemplo, o que se passa com os esgotos que lançam dejectos directamente no mar, mesmo em locais frequentados, eles que de mão dada com a GNR controlam e perseguem quem apanha três polvos ou dois quilos de lapas mas pouco ou nada fazem para manter a salubridade do litoral, elaboram agora comunicados muito queridos, muito bondosos, muito inocentes, muito vigilantes, muito protectores da vida dos demais.

Quão fácil é, para certos lobos, despirem a sua pele de cordeiro. Quão fácil é, sem qualquer pudor nem remorsos, mandar, simplesmente mandar, seja por capricho, por malvadez congénita ou por secretas frustrações que não podemos saber. Falar de distanciamento social numa qualquer praia da Madeira ou do Porto Santo em março, abril ou maio é gozar com o pagode, é passar atestados de menoridade a quem se recusa a ser mentecapto ou carneiro. Mas aposto que em julho ou agosto (o mês das multidões) as praias vão estar abertas. E repletas. Então desaparece a distância, desaparece a saúde, desaparece tudo. Que importa? Há que pensar nas multidões... São muitos votos, não são? Por isso, há que abrir depressa as lojas, os centros comerciais, os espaços de consumo ainda que poluídos, irrespiráveis e altamente infecciosos como é o caso dos parques de estacionamento subterrâneos aonde as turbas urbanas e suburbanas se dirigem em filas compactas de trânsito, de tal maneira que no início até parecia que tínhamos chegado ao Natal. Mas o problema dos senhores é o ar puro do mar ou do campo. É pegar numa canoa e ir à pesca. É pegar no seu barquinho e dar uma volta. Não, eles não gostam disso. Entretanto, lá do alto do seu pedestal e das suas quintas de governação, impávidos e serenos, esses mesmos senhores que despejam medidas atrás de medidas com a leviandade própria de uma criança a comer um gelado, parecem transformar-se em novos opressores que, de fato e gravata, têm o rebanho nas mãos e podem manipular, distorcer, vender a mentira como quem vende banha da cobra numa feira qualquer.

Como se já não bastassem os excessos dos Donos da terra, juntaram-se-lhes agora os Donos do mar.

Fechar Menu